Os Atos dos Apóstolos falam do «luto», ou melhor «do grande luto» (At 8,2) que a comunidade cristã faz pelo diácono e mártir Estêvão e – lendo o discurso sobre o pão – poderíamos dizer que o Senhor Jesus faz o seu «luto» – talvez ainda maior – sobre a nossa incredulidade. A psicologia moderna e pós moderna fala frequentemente da necessidade do «luto» nas várias fases e nos momentos significativos da vida: é necessário metabolizar as mortes, as perdas, os fracassos que atravessam nossa vida, para que não sejam simplesmente tumbas que se fecham sobre nós, paralisando a vida, mas ocasiões de crescimento. De fato, o martírio de Estêvão e a sua piedosa sepultura são vividos pela comunidade cristã como um momento de tristeza, mas também como ocasião para continuar decisivamente o próprio caminho de anúncio do evangelho, tanto que, no final, encontramos o exato contrário daquilo que poderíamos esperar: «E houve uma grande alegria naquela cidade» (At 8,8).
Assim também o Senhor Jesus não tem nenhum temor em chamar a atenção e quase denunciar nossa incredulidade e nossa dureza de coração diante do anúncio do evangelho, e isto, ao invés de nos dobrar sobre nós mesmos, permite-nos nutrir-nos e metabolizarmos – para que dê vida – o «pão» (Jo 6,35) que Ele é para nós. Não se pode esquecer que nenhum tipo de alimento seria capaz de nutrir, se não passasse através do processo de assimilação que exige uma transformação, que acontece sempre através de uma morte e, depois, um «luto». A experiência da primeira comunidade cristã, acompanhada e iluminada pela Palavra do Senhor Jesus, obriga-nos, por um lado, a dar-nos contas das realidades de morte que necessariamente assinalam nossa vida, e por outro, a não pararmos: «Aqueles, porém, que se tinham dispersado, andaram de lugar em lugar, anunciando a Palavra» (At 8,4).
O Senhor Jesus o afirma com força: «Eu o ressuscitarei no último dia» (Jo 6,40), mas – como aconteceu para o Senhor Jesus e o seu discípulos Estêvão, que se fez o primeiro da fila de uma inumerável legião de homens e mulheres que souberam pagar com a vida o penhor da esperança que lhes fazia viver – nenhuma ressurreição é pensável se não passa através do tempo de «luto» como capacidade de englobar a morte, com serena força, no interno das próprias leis da vida. A lamentação do Senhor, que soa nestes termos: «Eu vos disse que, mesmo me tendo visto, ainda assim, não credes» (6,36) coloca o dedo na ferida da nossa incredulidade de fundo, que nasce de uma ignorância misturada com desconfiança naquele que é o mistério e o segredo da vida verdadeira. Somos bombardeados continuamente com propostas e ofertas que buscam iludir-nos com o fato de que possamos receber e ter muito – muitíssimo mesmo – a custo zero, enquanto o Senhor nos recorda que, nas coisas verdadeiras existe sempre um custo... exatamente como aquele que pagou Estêvão, cujo sangue se torna semente e não tumba.
Fra MichelDavide Semeraro OSB, Messa quotidiana – aprile, Bologna 2010, 268-270.
Um comentário:
Amém que um dia eu possa comemorar com Cristo a devida morte de minha incredulidade...
Que o luto que ele faz por ela, seja sempre um sinal em meu coração de que a fé vencerá sempre meus momentos de incredulidade.
Um grande Abraço
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