segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

22 de dezembro: Ó Rei das gentes!


22 de dezembro
O MAGNIFICAT: UM DISCURSO SOBRE DEUS
O Magnificat traz à tona o conteúdo e o significado da Anunciação, à partir de três situações humanas: aquela religiosa, aquela sócio-política e aquela étnica; cada uma das quais, sozinha, não bastaria para interpretar o evento. A conjunção das três linguagens distintas tende, precisamente, a penetrar mais profundamente no Mistério. Cada uma desta aproximações tem vantagens e limites. O filho que Maria leva em seu ventre é a resposta de Deus às aspirações religiosas «daqueles que o temem», às aspirações sócio-políticas dos fracos e necessitados, e daquelas nacionais, do povo judaico. Todavia, mesmo respondendo a estas aspirações, vai muito além de suas expectativas.
Aos olhos do evangelista Lucas, é muito significativo que a mãe do Salvador tenha sido escolhida entre as filhas de Israel, que pertença à estirpe de Abraão dos patriarcas, ainda que seja verdade que a salvação, na qual crêem os cristãos, não seja questão de carne e sangue. Era preciso que a Salvação universal viesse de Israel, afim de que se manifestasse a fidelidade de Deus às suas promessas e a continuidade, que faz da Igreja, a herdeira de Israel.
É também significativo que a mãe do Salvador tenha sido escolhida no interno de um grupo religioso de tementes a Deus, os quais querem estar inteiramente a seu serviço, mesmo que seja, também verdade, que a Salvação anunciada pelo evangelho não seja reservada somente às pessoas que se distinguem pela sua religiosidade: muito mais que isso, Lucas insistirá sobre o amor de Deus pelos pecadores, os quais são todos chamados à conversão. E não é, enfim, menos significativo que a mãe do Salvador tenha sido escolhida da classe social mais humilde, aquela dos pequenos, dos fracos, tornando-se, assim, a primeira testemunha de uma salvação, cuja boa nova é diretamente destinada aos pobres. E isto não quer demonstrar a idéia de que a salvação trazida ao mundo por Cristo, seja reservada a uma classe social, mas revela sobretudo a atitude de um Deus que não aceita a injustiça, sobre a qual estão fundadas as sociedades humanas, nas quais a lei do mais forte é sempre a melhor, e as preferências de um Deus que privilegia exatamente aqueles que a sociedade dos homens despreza e rejeita: no Reino deste Deus, os primeiros deste mundo serão os últimos e os últimos, primeiros. (...)
O Deus de quem o Magnificat celebra a santidade, a misericórdia e a força, é certamente o Deus que os «tementes a Deus» servem, todavia a continuação do evangelho nos faz saber, sem dúvida, que a sua solicitude se desdobra de modo particular àqueles que dEle se afastaram. A estes, pede que retornem, para que lhes possa perdoar tudo. O Deus celebrado no Magnificat é e permanece o Deus de Israel, o Deus que chamou Abraão e cujas promessas, em favor de sua descendência, jamais falharão. Todavia, é também o Deus que quis que todos os homens pudessem se beneficiar da Salvação concedida a seu povo, independentemente de sua origem étnica.
A Salvação, enfim, que Deus quer assegurar a todos os homens, não prescinde das situações concretas de suas existências, mas comporta, de modo essencial, uma reviravolta das situações de injustiça, que agravam sobre os fracos e necessitados. O Deus do Magnificat se coloca, resolutamente, do lado dos pobres e dos que não tem nenhum poder.
O Magnificat não define Deus, mas fala dEle somente em função dos diversos aspectos da intervenção salvífica, iniciada com a Anunciação. E deste evento, Lucas nos apresenta Maria, como a primeira testemunha.

J. Dupont, Le Magnificat comme discours sur Dieu, 338-342.

domingo, 21 de dezembro de 2008

IV Domingo do Advento A



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Domingo IV do Advento
Esperar ... no silêncio
A escola da espera que é o Advento, não é pensada para que esta espera se cumpra, mas muito mais para que ela se enraize no nosso coração, tornando-se como um estilo habitual e característico de nossa vida. Enquanto contemplamos Maria que acolhe o anúncio do anjo – com tudo de si mesma e não sem colocar, de modo simples e claro, as perguntas que afloram no seu coração de jovem mulher e de noiva prometida – também a nós é pedida a reação, com a mesma simplicidade e força: «Eis a serva do Senhor: faça-se em mim segundo a sua palavra!» (Lc 1,38). Imediatamente depois do consenso de Maria de Nazaré à sua vocação de mãe, o texto conclui com uma pequena nota: «e o anjo se afastou dela». É certo que a missão do anjo tinha sido cumprida, mas, ainda mais profundamente, neste afastar-se de Gabriel, podemos ler o senso do estupor e da reverência que, desde momento em diante, as criaturas invisíveis nutrem por uma criatura como nós, habitada de modo inenarrável por aquela Presença, diante da qual as forças celestes cantam e tremem. Cumpre-se assim a promessa feita a Davi, através do profeta Natan: «O Senhor te anuncia que Ele mesmo te edificará uma casa» (2Sm 7,11). Esta palavra se cumpre de modo ainda mais maravilhoso – segundo o estilo próprio de nosso Deus – e uma mulher se torna a própria casa de Deus. Diante do mistério de Maria, habitada tão sensivelmente – com Péguy, poderíamos ousar dizer: tão sensualmente – pela divina Presença, que poderíamos perguntar-nos como poder oferecer, no nosso coração, a mesma serena e amável hospitalidade. Uma palavra do apóstolo Paulo talvez possa dar-nos uma pequena pista para compreender como preparar concretamente uma casa ao Senhor, dentro de nós, para que Ele se sinta em casa em nós. Paulo diz que o evangelho pregado por ele com tanto ardor «anuncia Jesus Cristo, segundo a revelação do mistério, envolvido no silêncio pelos séculos eternos, mas agora manifestado mediante as escrituras dos profetas» (Rm 16,25-26). De um modo sutil, mas eficaz, o apóstolo nos desvela que o Verbo ama habitar o silêncio e que a sua presença não pode senão crescer no silencioso serviço de uma vida entranhada de paz. Poderíamos oferecer, por nosso lado – junto e com Maria – este berço de silêncio, em cuja tranquilidade o Verbo possa tornar possível o «impossível» (Lc 1,37). Talvez o silêncio luminoso de nosso coração pode oferecer às sementes do Verbo, confiadas à terra de nossa alma em crescimento, aquela mesma «sombra» (Lc 1,35), na qual escondeu-se a «potência do Altíssimo».
Fra Michel Davide OSB

sábado, 20 de dezembro de 2008

20 de Dezembro Ó Chave de Davi


20 de dezembro

Esperar... humildemente

As palavras da coleta deste dia nos permitem entrar diretamente no mistério de Maria, como ícone da Igreja e modelo de todo fiel: «A Virgem imaculada acolheu vosso Verbo inefável e, como habitação da divindade, foi inundada pela luz do Espírito Santo». O olhar da Igreja sobre o mistério de Maria, que lhe serve de espelho, é aquele de um espaço que, exatamente porque «o Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra» (Lc 1,35) torna-se um espaço de salvação, digno de ser chamado «habitação-templo». Deste templo, hoje a liturgia nos faz contemplar a «chave de Davi que abre as portas» (antífona do magníficat e aclamação do evangelho da missa). Misteriosamente, ainda antes do anúncio do anjo, parece que o coração de Maria já seja completamente aberto e que, nela, não exista nada que precise ser forçado, mas tudo está já pronto para que cada coisa se realize. Talvez o «sinal» (Is 7,14) que Maria é, vem precedido pelo sinal que a torna reconhecível ao anjo Gabriel «entre milhares de milhares» (Ct 5,10) e é por isso que a coleta a indica como parâmetro para que o mistério da Encarnação possa atualizar-se ainda no coração dos fiéis: «Concedei que, a seu exemplo, abracemos humildemente a vossa vontade». Bem diverso é o modo de reagir de Acaz (Is 7,11), que parece fechado por detrás da porta de uma certa devoção, que esconde o medo de confiar-se e de arriscar, com Deus, um percurso novo, de esperança e de vida. Maria é a mulher que se pergunta a si mesma e que tem coragem de perguntar ao anjo, mas com o tom justo: humildemente. Não se esgotará jamais a importância deste instante da história que mudou tudo e sobre o qual, a meditação da Igreja parece inesgotável. Amadeo, bispo de Losana – monge cisterciense e contemporâneo de São Bernardo – exprime admiravelmente com estas palavras: «Nós te pedimos, dize-nos qual sentimento te comoveu, qual amor te tomou, quando estas coisas se realizaram em ti, quando o Verbo tomou o teu espírito, os teus sentidos e a tua mente?»[1]. Tudo isto não pode estar senão envolvido pelo mistério de uma intimidade inviolável, mas, para nós fica tarefa de imitar a atitude de Maria, que «humildemente» sabe confiar sua vida, aceitando tornar-se guardiã da vida tão vulnerável do Verbo, que tenta fazer-se carne, para tornar-nos participantes de sua mesma vida divina. Uma palavra podemos levar no coração, como «sinal» (Is 7,14) e é aquela do anjo: «O Senhor é contigo! (Lc 1,28).

Fra Michel Davide OSB


[1] Amedeo di Losanna, Omelie mariane 3.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

19 de dezembro - Anúncio a Zacarias


Zacarias é sacerdote, Isabel pertence à descendência de Araão. «Eram justos diante de Deus, observando, irrepreensíveis, todas as leis e prescrições do Senhor» (Lc 1, 6), e não obstante isso, parecem objeto de um castigo divino. «Isabel era estéril e ambos eram avançados em idade» (Lc 1, 7).
Tem-se a impressão de que a história de Abraão recomece de novo. Como acontece com Abraão e Sara, Deus mesmo intervirá com sua Palavra, e um Anjo será o seu mensageiro. (...)
A aparição de Gabriel no Santuário, durante o oferecimento da tarde, será finalmente o cumprimento próximo da profecia, anunciada no livro de Daniel, referente à vinda do Messias e à unção de um Santo dos Santos (cf. Dn 9, 20-27). E enquanto anuncia a Zacarias que suas orações foram atendidas, o anjo Gabriel, de pé ao lado do altar, descreve a missão do filho que Isabel lhe dará. Diz, antes de mais nada, o seu nome, que já é revelador: «João», que significa «JHWH faz graça».
Deus responde à oração do homem com a superabundância da sua graça. E Gabrel sublinha a alegria trazida pelo nascimento do menino; e já se tem um perfil da alegria messiânica que cumulará a espera de Israel. A consagração de João para uma missão particular é afirmada em termos que recordam a história de Sansão (cf. Jz 13, 4. 13-14) e a instituição do nazierato (cf. Nm 6, 3).
Esta missão consiste no caminhar diante ao enviado de JHWH com o espírito e a força de Elias, isto é, na qualidade de profeta. A plenitude do Espírito Santo que desce sobre ele, desde o seio materno, o coloca nas pegadas de Jeremias (Jr 1, 5), e o seu papel de reconciliador messiânico plenifica a esperança entrevista por Malaquias no final do Antigo Testamento (cf. Ml 13, 24): deve preparar o povo à instauração do Reino.
No momento no qual, para Israel, se anunciam estes dias decisivos, Zacarias se vê reduzido ao silêncio. Ele fez a mesma pergunta de Abraão: «como posso saber que será assim?» (cf. Gn 15, 8), mas sem a fé de Abraão.
Ele opõe a própria situação, assim como a vive, à Palavra Criadora de Deus. Como o primeiro Adão, exige um saber maior que a Revelação que lhe é concedida, mas a Palavra de Deus dá testemunho de si mesma: «quem deu boca ao homem? Ou quem o torna mudo ou surdo, vidente ou cego? Não sou, por acaso, eu, o Senhor? – responde Deus a Moisés, desconfiado e hesitante. – por acaso, não está aí Araão, teu irmão? Tu lhe falarás, e colocarás em sua boca as palavras que serão ditas» (Ex 4, 11. 14-15).
Uma mesma palavra de vida atravessa a carne dos dois esposos, tornando a uma, fecunda, e ao outro, mudo. Zacarias, reduzido ao silêncio, impotente de pronunciar a benção final, deve comparecer diante daquele – Único -- que pode pronunciá-la, e de levar até a plenitude a liturgia iniciada.
Depois, uma vez curado, Zacarias bendirá a Deus, mas a benção sobre o povo será dada, ao final do evangelho (Lc 24, 50-51), por Jesus, que Pedro chamará 'o servo enviado a trazer a benção' (cf. At 3, 26). (...) E com ela, cumprir-se-á, para além de toda esperança, a promessa feita por Deus a Abraão: «Em ti serão abençoadas todas as tribos da terra» (Gn 12 12, 3).
Ph. Bossuyt - J. Radermakers, Jésus Parole de la Grace selon saint Luc, 95-98.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

As antífonas do "Ó" de 17 a 23 de Dezembro



De 17 a 23 de dezembro a Igreja celebra, fazem muitos séculos, um período preparatório imediato ao Natal. Neste tempo, na oração da tarde, vésperas, temos uma antífona para o canto de Nossa Senhora, o Magníficat, que cada dia contempla um aspecto do Senhor que vem, nas suas prefigurações no Antigo Testamento, como um longo e profundo caminho para a chegada até nós do Verbo da Vida, Jesus Cristo. As antífonas do Magníficat são como um grito que começa sempre com um “Ó”, que será respondido pelo Senhor. Estas antífonas deram origem à devoção à Nossa Senhora do “Ó”, ou a Virgem da expectação, Maria grávida que prepara o nascimento do Verbo, seu filho. Atualmente, estas mesmas antífonas são utilizadas para a aclamação ao evangelho nas missas dos respectivos dias, e por isso mesmo vale a pena prestar atenção nelas. Em uma box, para quem quiser aprofundar, proponho uma apresentação, com o texto de um grande amigo meu, sobre estas antífonas, interessantíssimo! Os antigos nos superam em criatividade e beleza teológica, mas podemos sempre aprender deles, e dar vida nova a nossas velhas raízes.

18 de dezembro - O Justo José


São José, têmpera sobre madeira, Monastero San Lorenzo, Amandola, Itália 2001.
Em que consiste a justiça de José? Nada nos é explicado sobre a sublime justiça pela qual José acreditou na intervenção divina; ao contrário da Virgem, ele não tem nenhum papel na concepção virginal. A justiça se cumpre quando permite a Deus superar as dificuldades que se criam para um nascimento sem pai, difamante para os homens. Em compensação, José tem um papel capital no nascimento legal. Como Maria obedeceu na qualidade de serva do Senhor para conceber o Filho do Altíssimo, assim também ele deve obedecer para tornar-se o pai. A dúvida que o entrega às suas forças não é relatada por interessar-se em suas angústias pessoais, ou às virtudes morais, mas por revelar como se realiza o plano divino. Somente Deus conduz o desenrolar-se dos acontecimentos, mas nem por isso despreza a participação dos homens. É em nome da estirpe de Davi, em nome de Israel, como representante do Povo Eleito que, por ordem divina, o justo José aceita o mistério da Nova Aliança. Se Lucas, evangelista de Maria, nos conta a concepção e o nascimento do Filho da Virgem, Mateus refere o nascimento do Messias, o Filho de Davi.
José se mostra justo não enquanto observa a Lei que autoriza o divórcio em caso de adultério, nem porque se demonstra bom, nem porque ele deva prestar justiça a uma inocente, mas pelo fato de que ele não queira passar-se por pai do menino, Filho de Deus. Se ele teme tomar Maria como sua esposa, não é por uma razão profana; é porque ele descobre uma «economia» superior àquela do matrimônio que pretendia contrair. O Senhor modificou o seu desígnio sobre ele; que ele aceite de assegurar o futuro de sua eleita. José se retira, tendo o cuidado, na delicadeza da sua justiça para com Deus, de não «divulgar» o mistério divino de Maria. (...)
José não é somente um modelo de virtude, mas o homem que exerceu uma função indispensável na economia da Salvação. O justo José pode ser comparado a João, Precursor.
João anuncia e indica o Messias; José acolhe o Salvador de Israel. João é a voz que se faz eco da tradição profética; José é o Filho de Davi que adota o Filho de Deus. Por motivo de sua proclamação oficial, João é Elias, o grande profeta; por motivo do humilde acolhimento que ele faz ao Emanuel na sua estirpe, José é o Justo por excelência. Como todos os justos, ele espera o Messias, mas somente ele recebe a ordem de estender uma ponte entre os dois Testamentos; muito mais que Simeão que toma Jesus em seus braços, ele acolhe Jesus na sua própria estirpe. José reage como os justos da Bíblia diante de Deus que intervem na sua história: como Moisés que descalça as sandálias, como Isaías aterrorizado com a aparição do Deus três vezes Santo, como Isabel que se pergunta como a Mãe de seu Senhor venha até ela, como o centurião do evangelho, como Pedro que diz: «Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador» (Lc 5,8).
X.-L. Dufour, Studi sul vangelo, 103-108.

17 de dezembro: Ó Sabedoria


17 de dezembro

Deus desceu sobre a terra!

Não é do nascimento divino do Salvador que vos falo agora; melhor ainda, não vos falarei nem mesmo depois, porque este nascimento é incompreensível e inefável: o profeta Isaías já o disse antes de mim. De fato, ele, depois de ter predito com grande voz a paixão do Salvador e o seu grande amor por todos os homens, depois de ter admirado quem ele era, o quê ser tornou e até onde se abaixou, grita: «Quem poderá dizer qual é a sua geração?» (Is 53,8).

Não é, pois, deste primeiro nascimento que vos falo agora: falo-vos de seu nascimento terreno, documentado por muitos testemunhos e do qual tentarei dizer-vos tudo quanto a graça do Espírito Santo se dignou fazer-me apreender. Nem mesmo este nascimento é possível ser explicado com clareza, enquanto este constitui-se um mistério estupendo. Não considerai-o, pois, como coisa de pouca importância, quando escutai falar dele mas, ao contrário, elevai a vossa mente e tremei, escutando dizer que Deus desceu sobre a terra. É um milagre tão sensacional e inaudito, que os anjos em coro deram glória a Deus, com suas aclamações, em nome de toda a terra. Mesmo os profetas, há muito tempo, tinham escrito sobre ele, com grande admiração: «Foi visto sobre a terra e se entreteve com os homens» (Bar 3,38). É um extraordinário prodígio de Deus, inefável, incompreensível, em tudo igual a seu Pai, veio a nós, passando pelo seio de uma virgem, que se tenha abaixado nascendo de uma mulher; é extraordinário que ele tenha desejado ter Davi e Abraão como antepassados; mas o que é ainda mais estupefaciente é que tenha querido ter, como antepassadas, mulheres semelhantes aquelas que já recordamos. Por isso mesmo, quando escutai falar de tão grandes coisas, elevai o vosso espírito, não penseis que se trate de argumentos sem importância, mas duplicai a vossa admiração, vendo que o Filho de Deus eterno, o verdadeiro Filho do Pai, tolera ser chamado filho de Davi para vos tornardes filhos de Deus, e não rejeita ter por pai, aqui na terra, o seu servo, porque vós, que sois escravos, tenhais a Deus por Pai.

S, João Crisóstomo,

Commento al Vangelo di Matteo, Om 2,1-2, Roma 1966, I, 41-42.