terça-feira, 17 de dezembro de 2013

17 dezembro - Na história dos homens

Capuchin's Bible, c. 1180, Bibliothèque nationale de France, Paris
No início do Novo Testamento encontra-se o homem Jesus, que vem da história dos homens: com sua genealogia, Mateus introduz com muito cuidado, uma longa e confusa história do Antigo Testamento no Novo, que começou com Jesus Cristo. Em uma tríplice série de quatorze gerações, ele retoma, de modo peculiar, toda esta história e a reconduz àquele pelo qual, definitivamente, ela existiu. Ele mostra que esta história, sobre todos os seus caminhos, de maneira misteriosa, coloca em evidência a Cristo; faz ver também que, mesmo no passado, tratava-se sempre e unicamente de um único Deus, que visitava o seu povo e que agora, em Jesus Cristo, tornou-se o irmão dos homens. (...)

A história na qual fez o seu ingresso Jesus, é uma história normalíssima, com todos os escândalos e as vilezas que se encontram entre os homens, com todos os progressos e os bons propósitos, mas também com todas as culpas e baixezas: uma história extremamente humana. As quatro mulheres, que são nomeadas na genealogia, são quatro testemunhos da culpa humana: entre elas está a prostituta Raab, que com um estratagema fez Jericó cair nas mãos dos israelitas; entre elas está a mulher de Urias, da qual Davi se apossou com adultério e homicídio. As coisas não são diferentes se olhamos os homens: nem Abraão, nem Isaac, nem Jacó são figuras ideais; não o era Davi e nem mesmo Salomão; e, enfim, encontramos tiranos, como Acaz e Manassés, cujo trono é banhado com o sangue de pessoas inocentes assassinadas. É uma história tétrica aquela que conduz a Jesus, não sem esperanças e sem momentos positivos, mas no conjunto, uma história de miséria, de culpa, de falência. É este o ambiente no qual poderia nascer o Filho de Deus? – nos vem a vontade de perguntar. A Escritura responde: sim! Exatamente isto nos foi dado como sinal. A encarnação de Deus não é o resultado da ascensão do homem, mas o resultado da descida de Deus. (...)

A genealogia de Mateus começa com Abraão e é, pois, um testemunho da fidelidade de Deus, o qual cumpriu a promessa feita anteriormente a Abraão: ser o portador de uma benção para toda a humanidade. Toda a genealogia, com todas as suas desordens, com seus altos e baixos, é um luminoso testemunho da fidelidade de Deus, que mantém a sua Palavra, não obstante todas as falhas, não obstante toda a indignidade dos homens. O Evangelista Lucas, que nos oferece também uma genealogia de Jesus (Lc 3,23-28), escolheu um ponto de vista diferente. Ele faz chegar a genealogia do Senhor não somente a Abraão, mas até Adão, até às Mãos que plasmaram o homem. Com isto ele deseja indicar que a comunidade de Jesus não é somente um novo Israel, um novo povo de Deus, que Deus reúne para si neste mundo, mas quer afirmar que a missão de Jesus é dirigida à toda humanidade. Não é uma salvação para um grupo, um círculo, mas para a humanidade toda, o mundo. Somente em Jesus Cristo a missão do homem atinge a sua verdadeira meta, somente nele é realizado o projeto criativo «homem»; nele nos apareceu a humanidade do nosso Deus. No rosto de Jesus Cristo apareceu quem é Deus e se manifesta quem é o homem.

J.Ratzinger, Dogma e predicazione, 263-266.



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