Anunciação a S.José, têmpera acrílica sobre papel, 2007, Monastero di San Lorenzo, Amandola, Itália. |
Em que consiste a justiça de José? Nada nos é explicado sobre a sublime justiça pela qual José acreditou na intervenção divina; ao contrário da Virgem, ele não tem nenhum papel na concepção virginal. A justiça se cumpre quando permite a Deus superar as dificuldades que se criam para um nascimento sem pai, difamante para os homens. Em compensação, José tem um papel capital no nascimento legal. Como Maria obedeceu na qualidade de serva do Senhor para conceber o Filho do Altíssimo, assim também ele deve obedecer para tornar-se o pai. A dúvida que o entrega às suas forças não é relatada por interessar-se em suas angústias pessoais, ou às virtudes morais, mas por revelar como se realiza o plano divino. Somente Deus conduz o desenrolar-se dos acontecimentos, mas nem por isso despreza a participação dos homens. É em nome da estirpe de Davi, em nome de Israel, como representante do Povo Eleito que, por ordem divina, o justo José aceita o mistério da Nova Aliança. Se Lucas, evangelista de Maria, nos conta a concepção e o nascimento do Filho da Virgem, Mateus refere o nascimento do Messias, o Filho de Davi.
José se mostra justo não enquanto observa a Lei que autoriza o divórcio em caso de adultério, nem porque se demonstra bom, nem porque ele deva prestar justiça a uma inocente, mas pelo fato de que ele não queira passar-se por pai do menino, Filho de Deus. Se ele teme tomar Maria como sua esposa, não é por uma razão profana; é porque ele descobre uma «economia» superior àquela do matrimônio que pretendia contrair.
O Senhor modificou o seu desígnio sobre ele; que ele aceite de assegurar o futuro de sua eleita. José se retira, tendo o cuidado, na delicadeza da sua justiça para com Deus, de não «divulgar» o mistério divino de Maria. (...)
José não é somente um modelo de virtude, mas o homem que exerceu uma função indispensável na economia da Salvação. O justo José pode ser comparado a João, Precursor.
João anuncia e indica o Messias; José acolhe o Salvador de Israel. João é a voz que se faz eco da tradição profética; José é o Filho de Davi que adota o Filho de Deus. Por motivo de sua proclamação oficial, João é Elias, o grande profeta; por motivo do humilde acolhimento que ele faz ao Emanuel na sua estirpe, José é o Justo por excelência. Como todos os justos, ele espera o Messias, mas somente ele recebe a ordem de estender uma ponte entre os dois Testamentos; muito mais que Simeão que toma Jesus em seus braços, ele acolhe Jesus na sua própria estirpe. José reage como os justos da Bíblia diante de Deus que intervem na sua história: como Moisés que descalça as sandálias, como Isaías aterrorizado com a aparição do Deus três vezes Santo, como Isabel que se pergunta como a Mãe de seu Senhor venha até ela, como o centurião do evangelho, como Pedro que diz: «Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador» (Lc 5,8).
X.-L. Dufour, Studi sul vangelo, 103-108.
Um comentário:
Senhor, que eu aprenda, com José, a humildade silenciosa, o acolher generoso, a justiça!
Postar um comentário