Deus desceu sobre a terra!
Não é do nascimento divino do Salvador que vos falo agora; melhor ainda, não vos falarei nem mesmo depois, porque este nascimento é incompreensível e inefável: o profeta Isaías já o disse antes de mim. De fato, ele, depois de ter predito com grande voz a paixão do Salvador e o seu grande amor por todos os homens, depois de ter admirado quem ele era, o quê ser tornou e até onde se abaixou, grita: «Quem poderá dizer qual é a sua geração?» (Is 53,8).
Não é, pois, deste primeiro nascimento que vos falo agora: falo-vos de seu nascimento terreno, documentado por muitos testemunhos e do qual tentarei dizer-vos tudo quanto a graça do Espírito Santo se dignou fazer-me apreender. Nem mesmo este nascimento é possível ser explicado com clareza, enquanto este constitui-se um mistério estupendo. Não considerai-o, pois, como coisa de pouca importância, quando escutai falar dele mas, ao contrário, elevai a vossa mente e tremei, escutando dizer que Deus desceu sobre a terra. É um milagre tão sensacional e inaudito, que os anjos em coro deram glória a Deus, com suas aclamações, em nome de toda a terra. Mesmo os profetas, há muito tempo, tinham escrito sobre ele, com grande admiração: «Foi visto sobre a terra e se entreteve com os homens» (Bar 3,38). É um extraordinário prodígio de Deus, inefável, incompreensível, em tudo igual a seu Pai, veio a nós, passando pelo seio de uma virgem, que se tenha abaixado nascendo de uma mulher; é extraordinário que ele tenha desejado ter Davi e Abraão como antepassados; mas o que é ainda mais estupefaciente é que tenha querido ter, como antepassadas, mulheres semelhantes aquelas que já recordamos. Por isso mesmo, quando escutai falar de tão grandes coisas, elevai o vosso espírito, não penseis que se trate de argumentos sem importância, mas duplicai a vossa admiração, vendo que o Filho de Deus eterno, o verdadeiro Filho do Pai, tolera ser chamado filho de Davi para vos tornardes filhos de Deus, e não rejeita ter por pai, aqui na terra, o seu servo, porque vós, que sois escravos, tenhais a Deus por Pai.
S, João Crisóstomo,
Commento al Vangelo di Matteo, Om 2,1-2, Roma 1966, I, 41-42.
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