Mosaico da Igreja de San Clemente, perto do Coliseu, Roma, séc. XII |
A palavra de Pedro move o coração da Igreja primitiva para torná-lo mais acolhedor e menos exigente em relação aos irmãos que não vem da circuncisão: «E Deus, que conhece os corações, deu testemunho a seu favor, concedendo também a eles o Espírito Santo» (At 15,8). Na profunda e penosa «grande discussão» (15,7) que sacode a comunidade dos fiéis, não está em jogo – e isto vale ainda naquelas que são as escolhas e as posições que a Igreja é chamada a operar no tecido concreto da história – a ordem externa e visível da comunidade, que corre o risco de identificar-se com a preservação de alguns usos e costumes, mas está em jogo a própria imagem de Deus. Para Pedro, a grande surpresa, que exige uma profunda conversão de atitudes, é que Deus testemunhe «a favor deles», e é esta percepção de um Deus que está de nosso lado e não contra nós que muda tudo, mesmo que tudo pareça igual. No contexto da palavra de Pedro dirigida à assembleia, e que orienta a escolha da primitiva comunidade no que se refere a uma linha mais rigorista ou mais acolhedora e sensível às diversas sensibilidades, a palavra do Senhor Jesus assume todo o seu valos e o seu peso de libertação. Estamos de fronte a duas proposições que exige todo o nosso acolhimento. A primeira permanece fundamental: «Como o Pai me amou, também eu vos amei» (Jo 15,9).
Somente esta experiência fundamental de um amor, gratuito e unilateralmente oferecido, pode permitir a cada um acolher sem perturbação, ao invés, com alegria «plena» (15,11), expressão que segue: «Se observais os meus mandamentos, permanecereis no meu amor...» (15,10). No coração do evangelho está o convite a permanecer no amor, revivendo na nossa existência de discípulos, exatamente o que está no coração da própria vida do Verbo: «... e permaneço no seu amor» (15,10). Somente esta estabilidade no amor permite a fidelidade dinâmica aos «mandamentos». Estamos prontos a entrar e experimentar a alegria «plena» (15,11) prometida por Jesus e que nasce do enraizar a própria vida em uma relação, não somente significativa, mas capaz de dar qualidade à nossa vida? O segredo da alegria de Cristo que, no seu mistério pascal, nos faz participar, é a sua relação com o Pai e toda a revelação não é outra coisa que um convite a deixar-nos envolver neste fluxo de amor.
Quando Jesus fala de alegria, não fala senão do amor, e quando fala do amor, não pode ser senão da alegria. Assim os apóstolos, chamados a afrontar um grave problema, são impelidos pelo Espírito Santo a passar de uma visão problemática das coisas, que tende a defender as próprias posições, ao colocar em primeiro lugar a alegria dos outros, exercitando um grande amor por todos: «Para que busquem o Senhor também os outros homens e todas as gentes» (At 15,17). Assim diz uma mística do nosso tempo: «Nosso Senhor quis colocar em relevo esta grande verdade da supremacia do amor, da alegria do amor que se doa, da supremacia do amor na nossa relação com Deus. Mais amamos e mais cresce a nossa confiança nEle, e mais Deus encontra a sua alegria em nós»[1]. O Senhor está a nosso favor, está do nosso lado!
Semeraro, M.,
Messa Quotidiana, Bologna, maggio 2011, 245-247.
[1] MARIE-EUGÈNE DE L’ENFANT-JÉSUS, La joie de la misericorde, Nouvelle Cité, Bruyèresle-Châtel 2008, 28.
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