João escuta o Sagrado Coração do Amigo Jesus, grafica digital, 2008. |
Não basta usar este título de «amigos»! Cada vez que nós o utilizamos, somos chamados a fazer um longo caminho, que exige uma profunda renúncia a tudo o que pode impedir a recíproca compreensão e acolhimento. O caminho escolhido pela Igreja primitiva, sua inspiração do Espírito Santo que continuamente guia os passos concretos nos tempos e lugares reais da história, foi aquele de aliviar, mais que fazer pesados, limitando-se rigorosamente às coisas «necessárias» (At 15,28). O Senhor Jesus nos leva ao coração do que é verdadeira e absolutamente necessário: «Não vos chamo mais servos, porque o servo não sabe aquilo que faz seu patrão; mas vos chamei amigos» (Jo 15,15). O dom de Cristo é aquele de nos fazer entrar em uma comunhão de rara intimidade, da qual brota um profundo e real envolvimento: «Para que andeis e produzais muito fruto e o vosso fruto permaneça» (15,16).
Por três vezes, no texto dos Atos se faz referimento a este «bem», que puderam discernir juntos e que se deseja que possa ser participado por todos, para que todos possam profundamente gozar. Comentando o Evangelho de João, Clemente de Alexandria se exprime em termos paradoxais: «Pela sua compaixão para conosco, Deus se fez mãe para nós: no seu amor, o Pai se fez mulher e nos doou o grande sinal deste amor, com a geração do Filho, e o fruto nascido deste grande amor, é ele mesmo amor»[1]. O mesmo termo «amigo» remete ao mistério de um amor profundamente reconhecido e sensivelmente percebido: quê coisa nos pode fazer mais «bem»? Quê coisa poderia fazer aos outros mais «bem» do que isto?
Semeraro, M., Messa Quotidiana, Bologna, maggio 2011, 254-256.
[1] CLEMENTE ALESSANDRINO, Un ricco può salvarsi? 37.
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