Starry night, Van Gogh, Museu de Arte Moderna, Nova York, EUA 1889 |
Preciosíssimo versículo, que remete ao dúplice mistério da oração de louvor que é possível – poderíamos dizer, até mesmo, necessária – também no momento da desolação e do anúncio do evangelho, que passa simplesmente através deste canto dos apóstolos, canto capaz de criar, na prisão, habituada muito mais a outros clamores, uma atmosfera de paz tão profunda ao ponto de desmantelar, até às vísceras da terra, todas as feiuras: «Improvisamente aconteceu um terremoto tão forte que foram sacudidos os fundamentos da prisão; súbito se abriram todas as portas e caíram as correntes de todos» (16,26). Estamos diante de uma das mais belas parábolas capazes de dizer sobre a eficácia do evangelho de Cristo. Antes de tudo a memória que Deus intervém à «meia noite» e «imprevisivelmente», e que a sua passagem – como aquela da Páscoa – é sempre uma passagem para a libertação. À memória da Páscoa, vivida pelo povo no Egito, se acrescenta um elemento que é próprio da páscoa de Cristo e que é expressa pela palavra que Paulo dirige ao carcereiro: «Não te faças mal, estamos todos aqui» (16,28). A libertação deve ser para todos e não existe mais a lógica, segundo a qual, é necessário que alguém perça para que um outro viva, como acontece no Mar Vermelho. Para a Páscoa de Cristo, existe vida para todos, até mesmo para o carcereiro, para o qual, a estranha bondade de Paulo e Silas que, com a sua oração, criam as condições para a liberdade de todos, é um verdadeiro terremoto interior que muda a sua vida desde os fundamentos: «Depois, fez-lhes subir em casa, pôs a mesa e estava pleno de alegria, junto com os seus, por ter acreditado em Deus» (16,34). À luz de tudo isto, podemos deixar decantar no nosso coração, a palavra do Senhor, que busca levar-nos um pouco mais longe: «Mas eu vos digo a verdade: é bom para vós que eu vá, porque, se não vou, não virá para vós o Paráclito; se ao contrário, vou, eu o mandarei a vós» (Jo 16,7). Um verdadeiro terremoto, que preludia a uma nova meia noite!
Semeraro, M., Messa Quotidiana, Bologna, maggio 2013, 77-79.
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