Nas palavras do Senhor Jesus se respira um ar de grave saudade que se faz promessa: «Eu vos verei de novo e o vosso coração se alegrará e ninguém poderá tirar a vossa alegria» (Jo 16,22). Justo no momento em que a separação se faz mais eminente e sempre mais grave, o Senhor Jesus se faz intérprete desta separação e a transforma em uma real e grande oportunidade. Sempre as relações, sobretudo e antes de tudo aquelas que mais nos tocam, tem necessidade de reviver o drama de um parto renovado. A imagem da mulher, que «quando deve dar à luz, é na dor que o faz, porque chegou a sua hora» (16,21), torna-se para o Senhor Jesus a imagem mais adequada para falar da necessária transformação que deve acontecer na sua relação com os discípulos e do seu modo de relacionarem-se entre eles. O mistério pascal cria uma distância e obriga a viver uma separação que, mesmo na sua inevitável dose de dor, torna-se a ocasião irrenunciável para crescer e ir além do que já se viveu e amou.
A cruz se ergue como juízo e representa o eixo cartesiano, que permite o discernimento e a orientação que, inevitavelmente, comporta também acolher os inevitáveis sofrimentos: «Vós chorareis e gemereis, mas o mundo se alegrará. Vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se mudará em alegria» (16,20) A experiência pascal não é a morte, mesmo se passa através da morte! Ela é o lugar de profundas transformações que permitem um ganhar liberdade, a tal ponto que a alegria do final, diferentemente daquela dos inícios, «ninguém poderá» (16,22) tirá-la. A presença e a companhia do Senhor na nossa vida de discípulos não será diminuída pela experiência pascal, mas será radicalmente transformada, tanto que «naquele dia não me perguntareis mais nada» )16,23). Na primeira leitura podemos bem entender como tudo isto se realize na vida da Igreja nascente e na experiência pessoal de todos aqueles que se colocam no seguimento do Senhor Jesus Cristo, com generosidade e decisão firme. Ao final, vemos que ainda uma vez, Paulo «embarca» (At 18,18), e não sozinho, mas «em companhia de Priscila e Áquila». Não obstante o peso tão exigente da perseguição, das surras, das humilhações e das rejeições entre os discípulos, gera-se sempre mais uma companhia, que se funda sobre a fé comum e sobre uma esperança compartilhada, que se realiza em uma ardente caridade. Esta se expressa em uma crescente capacidade de caminhar juntos e viajar para novos portos, na espera de um novo modo de proceder unidos, que possa fazer nascer, não somente no nosso coração mas, através de nós, para a alegria de a vida de todos. As palavras do Senhor Jesus no cenáculo, como a experiência narrada por Lucas, sobre os primeiros passos da Igreja, recordam-nos que a companhia com o Senhor e entre nós não é um simples sentimento de proteção quentinha, mas um estímulo a andar sempre além do que nos conhecemos e vivemos.
Semeraro, M., Messa Quotidiana, Bologna, maggio 2013, 104-105.
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