segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

06 Cristo é tentado na nossa carne

A tentação de Jesus - Le Miroir de l’humaine condition, Escola francesa séc. XV.
A tentação de Jesus Cristo colocou fim à tentação de Adão. Como na tentação de Adão toda carne caiu, assim, com a tentação de Jesus Cristo toda carne foi arrancada ao poder de Satanás, porque Jesus Cristo tomou sobre si a nossa carne, sofreu a tentação e levou-a à vitória. Por isso, todos nós portamos a carne que, em Jesus Cristo, venceu Satanás. Também nossa carne, também nós vencemos na tentação de Jesus. Dado que Jesus foi tentado e venceu, nós podemos rezar: «não nos deixeis cair na tentação!» De fatom a tentação já aconteceu e foi vencida! Cristo o fez por nós. «Olhai a tentação do teu Filho e não nos deixeis cair em tentação também a nós!» Podemos e devemos estar certos de que somos atendidos nesta oração, e devemos dizer o nosso «Amém», porque foi atendida em Jesus Cristo. De agora em diante, não estaremos mais expostos à tentação, e toda tentação ainda existente é a tentação de jesus Cristo nos seus membros, na sua comunidade. Não somos tentados, mas Jesus é tentado, em nós.
Porque Satanás não conseguiu fazer cair o Filho de Deus mesmo, ele o persegue, agora, nos seus membros, com todo tipo de tentação possível. Mas estas tentações não são outra coisa que um último assalto daquela tentação de Jesus sobre a terra; o poder da tentação foi despedaçado na tentação de Jesus. Os seus discípulos se encontram nesta tentação e isto quer dizer que o Reino é deles. E a palavra fundamental dita por Jesus aos seus seguidores: «agora vós sois aqueles que prseveraram comigo nas minhas provas; e eu dsponho que vos seja dado um Reino» (Lc 22, 28-29). Não são as tentações dos discípulos a obter esta promessa, mas a participação na história e nas tentações de Jesus. As tentações dos discípulos passam por Jesus, e as tentações de Jesus passam aos seus discípulos.
Mas participar nas tentações de Cristo quer dizer, ao mesmo tempo, participar de sua vitória e seu triunfo. Não que as tentações de Cristo cessem, e que os discípulos não devam saber mais nada; tudo ao contrário, provarão ainda tentações, mas serão as tentações de Jesus Cristo que provarão. Assim, Cristo levará à vitória também estas tentações.
É exatamente porque os seus discípulos são participantes das suas tentações que Jesus quer preservá-los de outras tentações: «vigiai e orai, para não cairdes em tentação» (Mt 26, 41). Qual tentação ameaça os discípulos nesta hora no Getsêmani, senão aquela de escandalizarem-se com a Paixão? Por isso Jesus pensa no pedido do Pai Nosso: «não nos deixeis cair em tentação». O mesmo, no fundo, se diz em Hb 2, 18: «exatamente porque foi colocado à prova e ter sofrido pessoalmente, ele está em grau de vir em ajuda daqueles que se encontram na prova». Não se trata da ajuda que pode dar somente aquele que conheceu, por experiência própria, preocupações e dores; o verdadeiro sentido é que nas minhas tentações, somente a sua tentação pode servir-me de ajuda verdadeiramente; participar da sua tentação é a única ajuda na minha tentação. Por isso, não devo ver, na minha tentação, nada mais senão a tentação de Jesus Cristo. Na sua tentação está a minha ajuda, porque somente aqui existe a vitória e o triunfo.

D. Bonhoeffer, L'ora della tentazione, 53-56.

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