Capitel de las tentaciones de Cristo, para la iglesia románica francesa de St Andoche de Saulieu, s. XII |
As tentações espirituais, com as quais o diabo ataca os cristãos, tem uma dupla finalidade: que o fiel caia no pecado do orgulho espiritual (securitas) ou sucumba no pecado do desespero (desperatio). Ambos os pecados, porém, reduzem-se ao único pecado da tentação de Deus.
No pecado do orgulho espiritual, o diabo nos tenta, iludindo-nos sobre a seriedade da Lei de Deus e de sua ira. Ele toma nas suas mãos a Palavra da graça de Deus e nos sugere que Deus é um Deus de amor e portanto não levará à serio o nosso pecado. Com isto desperta, em nós, o desejo de pecar confiando na graça de Deus, de julgar-nos perdoados já antes de termos pecado. Faz sentir-nos seguros da graça: somos seus filhos, temos Cristo e a sua cruz, somos a verdadeira Igreja, não nos pode acontecer nada de mal. Deus não nos acusará de nenhum pecado. (...) Esta via termina com a idolatria. O Deus benévolo se torna um ídolo que serve. Mas isto é uma clara tentação a Deus, um desafio à ira de Deus.
À tentação da securitas se opõe aquela da desperatio, da acédia. Não se trata , neste caso, de atacar e colocar à prova a Lei de Deus, mas a graça e a promessa dEle. A este fim, Satanás retira do cristão toda alegria que deriva da escuta da Palavra de Deus, toda esperiência da bondade de Deus; e no seu lugar, enche o coração de medo do passado, do presente e do futuro. Culpas passadas, e esquecidas há muito, improvisamente retornam à mente como se tivessem acontecido pouco tempo faz. Aumenta a oposição à Palavra de Deus, irritação contra a obediência, e todos os desesperos, diante do futuro na presença de Deus, tomam conta do meu coração. Deus nunca esteve comigo, não está comigo, não me poderá perdoar jamais, o meu pecado é demasiadamente grave para ser perdoado; e assim o espírito do homem se revolta contra a Palavra de Deus. Pretende uma experiência definitiva, uma demonstração concreta da graça divina, pois do contrário, desesperando de Deus, não que mais ouvir sua Palavra. (...)
Nestas tentações os nossos pecados vêm à luz e são castigados pela ira de Deus, isto é, em primeiro lugar a nossa ingratidão de fronte a tudo o que Deus fez por nós até este momento: «não esqueçais os seus benefícios». «Quem me oferece um sacrifício de louvor, me glorifica... e eu o farei ver a salvação de Deus» (Sal 50,23). E a nossa atual desobediência, que não quer arrepender-se do pecado não ainda perdoado, e não quer deixar o pecado predileto. E, enfim, o nosso desespero, como se o nosso pecado pudesse ser demasiadamente grande para Deus, como se Cristo tivesso sofrido somente pelos pecadinhos e não pelos verdadeiros grandes pecados do mundo inteiro, como se Deus não tivesse grandes projetos também para mim, como se Ele não tivesse preparado uma herança no Céu, para mim. Devo agradecer a Deus pelo seu juízo acima de mim, porque me mostra que Ele me cura e me ama, e posso reconhecer em tudo isto, que fui empurrado por Satanás na máxima tentação de Cristo sobre a Cruz, quando ele gritou: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?» (Mc 15,34). Mas, onde se manifestou a ira de Deus, ali também se encontrou a reconciliação. Ali onde, atingido pela ira de Deus, perco todas as coisas, agora escuto dizer-me: «a minha graça é abundante, para que o meu poder se mostre perfeito na fraqueza» (2Cor 12,9).
E, enfim, na gratidão pela vitória sobre a tentação, sei também que nenhuma tentação é maior que o não sofrer nenhuma tentação.
D. Bonhoeffer, L'ora della tentazione, 89-95.
À tentação da securitas se opõe aquela da desperatio, da acédia. Não se trata , neste caso, de atacar e colocar à prova a Lei de Deus, mas a graça e a promessa dEle. A este fim, Satanás retira do cristão toda alegria que deriva da escuta da Palavra de Deus, toda esperiência da bondade de Deus; e no seu lugar, enche o coração de medo do passado, do presente e do futuro. Culpas passadas, e esquecidas há muito, improvisamente retornam à mente como se tivessem acontecido pouco tempo faz. Aumenta a oposição à Palavra de Deus, irritação contra a obediência, e todos os desesperos, diante do futuro na presença de Deus, tomam conta do meu coração. Deus nunca esteve comigo, não está comigo, não me poderá perdoar jamais, o meu pecado é demasiadamente grave para ser perdoado; e assim o espírito do homem se revolta contra a Palavra de Deus. Pretende uma experiência definitiva, uma demonstração concreta da graça divina, pois do contrário, desesperando de Deus, não que mais ouvir sua Palavra. (...)
Nestas tentações os nossos pecados vêm à luz e são castigados pela ira de Deus, isto é, em primeiro lugar a nossa ingratidão de fronte a tudo o que Deus fez por nós até este momento: «não esqueçais os seus benefícios». «Quem me oferece um sacrifício de louvor, me glorifica... e eu o farei ver a salvação de Deus» (Sal 50,23). E a nossa atual desobediência, que não quer arrepender-se do pecado não ainda perdoado, e não quer deixar o pecado predileto. E, enfim, o nosso desespero, como se o nosso pecado pudesse ser demasiadamente grande para Deus, como se Cristo tivesso sofrido somente pelos pecadinhos e não pelos verdadeiros grandes pecados do mundo inteiro, como se Deus não tivesse grandes projetos também para mim, como se Ele não tivesse preparado uma herança no Céu, para mim. Devo agradecer a Deus pelo seu juízo acima de mim, porque me mostra que Ele me cura e me ama, e posso reconhecer em tudo isto, que fui empurrado por Satanás na máxima tentação de Cristo sobre a Cruz, quando ele gritou: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?» (Mc 15,34). Mas, onde se manifestou a ira de Deus, ali também se encontrou a reconciliação. Ali onde, atingido pela ira de Deus, perco todas as coisas, agora escuto dizer-me: «a minha graça é abundante, para que o meu poder se mostre perfeito na fraqueza» (2Cor 12,9).
E, enfim, na gratidão pela vitória sobre a tentação, sei também que nenhuma tentação é maior que o não sofrer nenhuma tentação.
D. Bonhoeffer, L'ora della tentazione, 89-95.
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