Sto. Elias Profeta, ícone de 1987 |
Não se pode, de fato, agarrar Deus, como se toma um pedaço de pão. Não se pode beber o Espírito como um copo de água. Para empregar a linguagem da psicologia, o jejum e a oração podem operar em nós a passagem da necessidade ao desejo. Isto significa, na linguagem da bíblia, que não experimentamos mais prazer com o leite dos recém nascidos, mas que agora podemos tomar também o alimento sólido do Espírito, a que tem direito aqueles que chegaram, em Cristo, à estatura do homem adulto (cf. 1Pd 2,2; Ef 4,13). O jejum e a oração são, então, expressão de um grande amor purificado – o casto amor medieval – que se traduz em um abandono incondicional e na espera paciente das maravilhas que Deus, livre e espontaneamente, realizará em nossa vida (...)
No momento em que toda necessidade inconsciente é transformada em desejo puro, Deus corresponde, com toda a sua misericórdia. Trata-se de uma liberalidade que distribui dons gratuitamente, mas sobre a qual não podemos vangloriar-nos de nenhum direito: «Que tenho eu em meu favor no céu? Fora de ti, ninguém mais desejo sobre a terra» (Sl 73, 25).
O jejum se torna a fonte de uma alegria indizível, alegria de quem come unicamente pela Mão de Deus. Enquanto as vigílias nos fazem como que superar o tempo, o jejum nos faz descer em profundidade até os estratos inconscientes do nosso ser, lá onde, com a força do Espírito, possamos afrontar todas as necessidades e todas as paixões. Nas vigílias, o homem se assemelha aos anjos que, dia e noite, contemplam o rosto de Deus. O jejum o coloca em grau de viver, no seu próprio ser, a fome profunda de toda a criação, fome que não pode ser nunca apagada em um corpo, que somente o Espírito pode saciar. De fato, é o Espírito que confere sempre força e finalidade ao jejum e à oração, Ele que escuta ao primeiro e à segunda, sem medida, para além de toda necessidade e todo desejo.
A. Louf, Signore, insegnaci a pregare, 119-120.
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