Cristo com a iconografia do filósofo romano, Catacumbas de Comodila, Roma, séc. IV. |
Cristo, que é o mediador. O fato que nós possamos atingir Deus na oração não é uma evidência religiosa: é um fato tornado possível unicamente por Cristo. Nenhuma oração encontra a estrada para Deus se Jesus Cristo, o nosso intercessor, não a toma e a diz por nós; nenhuma oração encontra esta via senão é pronunciada no nome de Jesus Cristo. Não se trata de uma fórmula, mas de uma realidade: a nossa oração é ligada ao homem Jesus Cristo, à sua vida, à sua morte e ressurreição, ligada ao ato anterior e já consumado de Deus, à Palavra, pronunciada por Deus, que nos absolve. Porque Deus se fez homem e sofreu conosco, foi provado em todas as coisas, como nós, na angústia e na morte, e «nos dias de sua carne, ofereceu orações e súplicas com fortes gritos e lágrimas» (Hb 5, 7); por isso e nisto somente, nós temos a graça da oração.
A oração cristã existe, pois, unicamente em base da Palavra de Deus, pronunciada em Jesus Cristo e, em base da intercessão eterna de Jesus Cristo pela sua comunidade. Vale dizer que a oração cristã é uma oração ligada à Sagrada Escritura. O verdadeiro presuposto da oração cristã é o fato de que Deus permaneça também lá, aquele que fala, isto é, o sujeito; o fato de que ela seja a Palavra de Deus, isto é a oração de Jesus Cristo, o grande sacerdote.
Ora, os Salmos exprimem, precisamente este dado de fato, enquanto se apresentam a nós como oração da comunidade de Deus e como Escritura Santa. Isto significa muito simplesmente que é Cristo mesmo aquele que reza nos Salmos, e que nós repetimos estas orações no nome de Jesus Cristo. Não tem sentido, pois, conceber as orações dos Salmos como orações de imediatez, como se fôssemos nós o sujeito; trata-se, ao contrário, de compreender e de rezar os Salmos como oração de Jesus Cristo na comunidade, ou como as orações da comunidade no nome de Jesus Cristo.
D. Bonhoeffer, Textes choisis, 204-205.
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