Batismo de Cristo, Marfim do séc. XII, Salerno, Itália. |
Cada vez mais, a vida cristã parece esgotar-se em um certo «modo de comportar-se», em um código de boa conduta. Sempre mais, o cristianismo se aliena em uma modalidade social adaptada na medida das exigências humanas menos dignas, do conformismo, da conservação estéril, da estreiteza de coração e do medo de ousar, como também, a um moralismo insignificante, que busca adornar o que é vil e mesquinho com o ornamento funesto das conveniências sociais. Os homens que verdadeiramente tem sede de vida, que desesperadamente lutam por discernir alguma luz no mistério hermético da existência humana, isto é, os homens aos quais, primariamente e por excelência se dirige o evangelho da Salvação, todos eles permanecem, inevitavelmente, distantes da convenção social racionalmente organizada do cristianismo estabelecido.
Neste clima hodierna, para um grande número de homens, de cristãos, a ascese, mesmo só como palavra, é incompreensível. Se alguém fala de jejum, de continência e de voluntária limitação dos desejos individuais, seguramente o olharão com ironia ou com um ar de condescendência. Isto certamente não impede aos homens de ter suas «convicções metafísicas», de crer em algum «ser superior» o ao «doce Jesus», que ensinou uma maravilhosa moral. A pergunta é se as «convicções metafísicas» servem quando não dão, nem mesmo minimamente, uma real (não idealística e abstrata) resposta ao problema da morte, ao escândalo da dissolução do corpo na terra.
Esta resposta se encontra somente no conhecimento dado pela ascese, pelo compromisso de nosso próprio corpo em resistir à morte, pela superação dinâmica da necrose do homem. E não será uma ascese qualquer, mas aquela que é conformação com o exemplo de Cristo, que voluntariamente aceitou a morte para dissolver a morte, «destruindo a morte com a morte». Todo morrer voluntário ao egocentrismo é abolição dinâmica da morte e triunfo da vida na pessoa, para que o homem chegue finalmente à entrega confiante de seu corpo, último refúgio da morte, na Mãos de Deus, nos braços da «terra do Senhor» na plenitude da comunhão dos santos.
Ch. Yannaras, La libertà dell'ethos, 115-116.
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