domingo, 21 de dezembro de 2008

IV Domingo do Advento A



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Domingo IV do Advento
Esperar ... no silêncio
A escola da espera que é o Advento, não é pensada para que esta espera se cumpra, mas muito mais para que ela se enraize no nosso coração, tornando-se como um estilo habitual e característico de nossa vida. Enquanto contemplamos Maria que acolhe o anúncio do anjo – com tudo de si mesma e não sem colocar, de modo simples e claro, as perguntas que afloram no seu coração de jovem mulher e de noiva prometida – também a nós é pedida a reação, com a mesma simplicidade e força: «Eis a serva do Senhor: faça-se em mim segundo a sua palavra!» (Lc 1,38). Imediatamente depois do consenso de Maria de Nazaré à sua vocação de mãe, o texto conclui com uma pequena nota: «e o anjo se afastou dela». É certo que a missão do anjo tinha sido cumprida, mas, ainda mais profundamente, neste afastar-se de Gabriel, podemos ler o senso do estupor e da reverência que, desde momento em diante, as criaturas invisíveis nutrem por uma criatura como nós, habitada de modo inenarrável por aquela Presença, diante da qual as forças celestes cantam e tremem. Cumpre-se assim a promessa feita a Davi, através do profeta Natan: «O Senhor te anuncia que Ele mesmo te edificará uma casa» (2Sm 7,11). Esta palavra se cumpre de modo ainda mais maravilhoso – segundo o estilo próprio de nosso Deus – e uma mulher se torna a própria casa de Deus. Diante do mistério de Maria, habitada tão sensivelmente – com Péguy, poderíamos ousar dizer: tão sensualmente – pela divina Presença, que poderíamos perguntar-nos como poder oferecer, no nosso coração, a mesma serena e amável hospitalidade. Uma palavra do apóstolo Paulo talvez possa dar-nos uma pequena pista para compreender como preparar concretamente uma casa ao Senhor, dentro de nós, para que Ele se sinta em casa em nós. Paulo diz que o evangelho pregado por ele com tanto ardor «anuncia Jesus Cristo, segundo a revelação do mistério, envolvido no silêncio pelos séculos eternos, mas agora manifestado mediante as escrituras dos profetas» (Rm 16,25-26). De um modo sutil, mas eficaz, o apóstolo nos desvela que o Verbo ama habitar o silêncio e que a sua presença não pode senão crescer no silencioso serviço de uma vida entranhada de paz. Poderíamos oferecer, por nosso lado – junto e com Maria – este berço de silêncio, em cuja tranquilidade o Verbo possa tornar possível o «impossível» (Lc 1,37). Talvez o silêncio luminoso de nosso coração pode oferecer às sementes do Verbo, confiadas à terra de nossa alma em crescimento, aquela mesma «sombra» (Lc 1,35), na qual escondeu-se a «potência do Altíssimo».
Fra Michel Davide OSB

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