sábado, 21 de dezembro de 2013

21 de dezembro - A visita de Maria a Isabel

Visitação, Jean Marie Pirot (Arcabas)
Cumprindo a viagem da Galiléia à Judéia, de Nazaré a Ain-Karin, Maria não se dobra a um evento da história deste mundo, como acontecerá com a sua vinda a Belém na noite da natividade, quando fará obediência a um edito do imperador, e nem mesmo obedece a um mandamento divino, como acontecerá pela fuga ao Egito e o retorno daquela terra, em que cada vez, um anjo do Senhor informa José, em sonhos, seja do perigo que ameaça o menino, seja da morte daqueles que insidiavam a sua vida; não se conforma nem mesmo a uma prescrição da Lei, da qual cumpriria minuciosamente as disposições, como tem o costume de fazer, e como acontecerá durante sua purificação e a apresentação do menino no templo, quarenta dias depois de seu nascimento. Ainda menos vai até Isabel para verificar as palavras do anjo, por que a prima a saúda chamando-a de “feliz aquela que acreditou”, e louva, pois, a fé daquela que já acreditou.

Maria não se dirige para a montanha pela falta de fé na profecia ou por alguma dúvida sobre o que aconteceu em precedência, mas tão somente porque impulsionada pela alegria. Este visitar Isabel responde simplesmente à necessidade de Maria de estar lá onde é necessário um serviço; esta viagem revela a necessidade de Maria de poder cantar a misericórdia do Senhor que vem visitá-la, indo visitar aquela que também foi visitada pelo Senhor.

O tema da visita se encontra em muitas formas ao redor do gesto de Maria: no dia da anunciação, ela foi visitada pelo anjo vindo a comunicar-lhe sua eleição e solicitar seu fiat, seu consentimento. Por outro lado, Isabel, como então revelou o próprio anjo, também foi visitada, porque ela está no seu sexto mês, ela que era conhecida como estéril, e Deus colocou fim a sua vergonha. Em uma ligação profunda com estas duas visitas se cumpre esta outra visita de Maria, na direção da montanha, em uma cidade de Judá.

O tema da visita retorna frequente no evangelho da infância segundo Lucas: visita do anjo Gabriel a Zacarias e a Maria, visita de Maria a Isabel, visita dos pastores à manjedoura, visita de Maria e de José ao Templo, mais tarde, visita de Jesus, aos doze anos, a este mesmo Templo. Todas estas visitas presentes no evangelho da infância, e das quais a Visitação não é senão um exemplo, não são senão uma expressão multiforme da visita de Deus.

A visita de Deus em toda a Escritura indica a sua intervenção, trata-se de juízo ou de salvação. Deus visita quando julga, e Deus visita quando salva. E Maria, no Magnificat, canta a visita de Deus aos homens, da qual ela é o instrumento, canta o juízo e a salvação: os poderosos despedidos de mãos vazias e os pobres saciados, os saciados famintos e os famintos cumulados de bens, os soberbos humilhados e os humildes glorificados. É isto que canta Maria durante sua visita a Isabel.

A visita que ela faz a sua prima é, antes de tudo, uma imagem daquela que o Verbo se prepara para fazer aos homens, incarnando-se no seu seio, porque existe uma semelhança profunda entre o que acontece no seio da Virgem de Nazaré e o que acontece no caminho que separa Nazaré de Ain-Karin. O Verbo de Deus, que vem visitar os homens fazendo-se homem, visita já, neste gesto de Maria, preocupada de anunciar ao mundo a Incarnação. Esta visita, de fato, acontece à imagem da Incarnação; é a maior que se move, que vem servir, levando em si mesma aquele que, em seu seio, está tomando forma de servo e que vem "não para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate de muitos” (Mt 10, 45).
J.Goldstain, Harmoniques évangéliques, 18-20.


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