Jesus e Madalena no Jardim da Ressurreição, miniatura do séc. XIII. |
Por isso, Pedro, depois de ter exaltado a obra de Deus, recorda – antes de tudo, a si mesmo – aquela dura verdade que pode esmagar ou pode fazer voar: «que vós crucificastes» (2,36). Pela mesma razão, o Senhor Jesus não se revela imediatamente a Maria Madalena e, sobretudo, não se revela por aquilo que esta mulher vê, mas por aquele caminho de consciência da dor e do vazio deixado por Jesus na sua vida, que lhe permite encontrá-lo, recomeçando a escutar, de seus lábios, o seu próprio nome: «Maria!» (Jo 20,16). A pergunta – ou melhor, as perguntas – que são postas a Maria são as mesmas que sentimos ressoar no jardim de nosso coração, onde somos chamados a passar da tristeza do apego à nossa dor a uma gradual abertura, na acolhida de uma alegria inédita e imprevista. Tudo isto nos pede que ultrapassemos a nós mesmos, na verdade de nós mesmos, que nos leva nossa experiência de ressurreição para além, em um dinamismo centrífugo e extrovertido que, do interior de um coração pacificado e curado, se faz dinâmico anúncio, e não um doce intimismo. No pronunciar o nome do Ressuscitado e na resposta de Maria, que o chama «Mestre», existe uma pedagogia que permite passar do impessoal ao personalíssimo reconhecimento recíproco. Ele exige uma justa dose de respeito e distância, e uma acolhida serena daquela ordem que permite à vida dar o seu melhor: «Não me retenhas, porque não subi ainda para o Pai» (20,17). Assim, também, na manhã, aqueles que escutam Pedro se sentem «transpassados no coração» e, somente à partir da consciência das próprias responsabilidades, abre-se um futuro: «Quê devemos fazer, irmãos?» (At 2,37). Se é verdade que a ressurreição não é uma vingança de Jesus sobre aqueles que o rejeitaram até o ponto de crucificá-lo, é ainda mais verdadeiro que a discreta vitória pascal sobre a morte, que nasce da rejeição do amor, não é uma história com final feliz, na qual todos ficam felizes e contentes, mas uma história que exige a coragem de assumir o passado e dirigir-se ao futuro, através de escolhas concretas e exigentes no presente: «Convertei-vos...» (2,38).
Semeraro, M., La messa quotidiana, aprile 2011, 187-189.
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