1418-1422 - Bíblia de Mkrtich Naghash |
Por isso, o Senhor Jesus pode dizer, em toda verdade: «Eu sou o pão da vida», e ainda: «...porque desci do céu não para fazer minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou» (Jo 6,35.38). A este ponto, fica claríssima a promessa: «Quem crê em mim não terá sede jamais!» (6,35), mas torna-se mais evidente ainda que, se aceitamos reconhecer e acolher esta lógica de dom, é necessário aceitar também que ela faça Deus doador de si mesmo, e não apenas um distribuidor de benefícios. Todavia, a vida do Senhor Jesus é direcionada a devolver ao homem a confiança de poder retornar àquele paraíso de intimidade, do qual ele teve a sensação de ter sido expulso, porque maldito e não mais amado. Ao contrário, a nossa humanidade foi colocada na porta do Jardim, para que pudessem nascer, em nós, o desejo e a saudade daquela vida de comunhão com Deus, que não soubemos valorizar o suficiente e a seu tempo.
O Senhor Jesus redime e reestabelece a inocência do nosso desejo de comer, contaminado e desorientado pela sugestão autonomista da serpente, e retorna a nutrir-nos ele mesmo, dando-nos em alimento a si próprio: «Esta é, de fato, a vontade do meu Pai: que quem vê o Filho e nele crê, tenha a vida eterna» (Jo 6,40). A vida eterna não é outro que a plenitude de vida que, enraizando-se em Deus, vem dEle e a Ele nos leva, em um espaço sempre pais amplo e sempre menos asfixiante e dobrado sobre si mesmo. Entre Jesus e os seus discípulos – entre Jesus e nós – está o Pai, e é o Pai que abre o nosso coração para reconhecer e acolher o seu Filho. É o Pai que deu e continuamente doa ao mundo o seu amor, confiando-o ao pão de seu Filho, um Filho tão amado, ao ponto de ser compartilhado conosco.
O Senhor Jesus usa a linguagem da ressurreição que, nos seus dias, é aquele mais adequado para evocar a esperança, que hoje definiríamos mais compreensivelmente como «qualidade de vida». E é justamente o que nos é atestado e testemunhado na primeira leitura: a morte de Estevão, a qual, se é ocasião de «um grande luto» (At 8,2), torna-se também a ocasião para alargar o horizonte da pregação, a tal ponto que «foi uma grande alegria naquela cidade» (8,8).
Semeraro, M., Messa Quotidiana, Bologna, aprile 2013, 177-179.
[1] S. WEIL, Il cristianesimo e la vita dei campi.
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