S. Apollinare Nuovo (VI secolo) a Ravenna |
Tabgha, Palestina. V séc. |
É como se alguém batesse à porta de casa e, temendo que nos perturbe, ao invés de perguntar o que deseja, a nossa primeira reação fosse aquela de dizer: «Entre e fique à vontade!». O resto se resolverá depois, e não está excluído que não se possa fazer nada por aquele que bateu à porta, ou muito pouco... mas abrindo-lhe a porta, fazendo-o atravessar, amigavelmente, o limiar da casa e introduzindo-o na intimidade de nossa vida, teremos feito o passo essencial, que é aquele de fazer sentir ao outro que ele não nos perturba, ao contrário, é bem vindo. Percebe-se, na resposta do Senhor Jesus, uma paz imensa que é capaz da aplacar as angústias de todos: daqueles que tem fome e de quantos que, como os apóstolos, temem dever envolver-se em uma história que é, claramente, muito maior do que eles. Enquanto os discípulos, diante do sucesso pastoral de seu mestre, arriscam começar a raciocinar e, mais ainda, a sentir em termos organizativos, o Senhor Jesus mantém e nutre aquele espírito de família e de humaníssima proximidade, na qual é impossível contar e calcular as reservas em termos numéricos, mas somente em termos de natural compartilhar: «Tomou os pães e, depois de ter dado graças, deu-os aos que estava sentados, e o mesmo fez com os peixes, e comeram o quanto desejavam» e, no proceder, parece que deixe todo o tempo para que estejam «saciados» (6,11-12).
Multiplicação dos pães e Santa Ceia, Marfim séc. XII, Salerno, Itália. |
Se existe uma pretensão em Jesus, é aquela de poder, sempre e em todas as situações, por mais difícil e complicada que pareça, recriar um clima de confiança e de acolhimento, dois estilos capazes de multiplicar, ao infinito, as possibilidades de encontrar a solução mais adequada, solução que é sempre a mais natural e a mais simples: fazer circular o pão da vida, deixando que a vida se dilate e se comunique. O sábio Gamaliel fica fora dos raciocínios alarmantes e medrosos dos seus colegas, colocando a situação que tanto perturba nas mãos de Deus, e deixando que o fluxo natural da vida revele a bondade ou a iniquidade do que está acontecendo. Gamaliel usa da experiência e recorda que já houve alguém que «pretendia ser alguém» (At 5,36), mas isto não basta para que ele seja alguém. Vejamos que o Senhor Jesus não pretende ser alguém, mas tem a pretensão de ser, no meio de nós, o sinal de uma comunhão entre nós e o Pai, que se pode sempre encontrar e com quem podemos sempre nos comunicar. O resto não lhe interessa, de fato, tanto que «retirou-se de novo sobre o monte, e ficou sozinho» (Jo 6,25).
Semeraro, M., La messa quotidiana, aprile 2013, 129-131.
Semeraro, M., La messa quotidiana, aprile 2013, 129-131.
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