Em italiano, quando
se quer definir alguém, pelas suas qualidades de humanidade, diz-se que é uma
pessoa «boa como o pão» ou então afirma-se, sobretudo para evocar a bondade e a
delicadeza, que é um «pedaço de pão». O Senhor Jesus parece referir-se a si
mesmo esta característica, quando diz aos seus ouvintes e a quem quer que se
abra para acolher a sua palavra: «Eu sou o pão da vida; quem vem a mim não terá
fome e quem crê em mim não terá sede, jamais!» (Jo 6,35). Esta palavra do
Senhor Jesus, que faz conjunto com o Mistério de sua pessoa, ressoa como o fim
daquela palavra, com a qual o Senhor Deus buscou acertar, no caminho, os passos
de nossa humanidade perdida pela instigação da serpente: «Com o suor de teu
rosto comerás o pão» (Gn 3,19). O Senhor Jesus nos traz de volta a benção
original, na qual tudo nos tinha sido dado como alimento, para ser
compartilhado com os outros seres vivos, sem ter necessidade de lançar mão de
nosso instinto possessivo, para além daquilo que nos havia sido dado com dom.
Na realidade, a
pergunta que o Senhor Jesus busca responder, talvez com uma ponta de dor e
frustração, é também a nossa: «Quais sinais tu realizas para que vejamos e
creiamos?» (Jo 6, 30). Todos somos
interiormente habitados, ao ponto de parecer uma verdadeira doença, daquela que
poderíamos definir como uma bulimia de sinais. Sempre buscando um sinal
convincente e evidente, frequentemente nos revelamos incapazes de acolher o que
já é suficiente para nutrir, fazer crescer e irradiar a nossa vida de fé. A
Palavra do Senhor Jesus, hoje, nos pede uma profunda e exigente revisão de
vida, cujo primeiro passo é o de resistir à tentação de olhar o passado, para
acolher o desafio de dirigir o olhar para aquele presente que funda o nosso
futuro. Exatamente como quando se come: naquele momento, não se busca nunca
saciar a fome de ontem! Quando Jesus se apresenta e se doa como pão,
recorda-nos que de nada serve um alimento disponível e oferecido se, depois,
ele não é comido: Pode-se bem morrer de fomo diante de uma mesa fartamente
preparada. Eis porque o Senhor insiste no falar de si mesmo como pão e no pedir
a cada um de nós, que nos nutramos dele. O primeiro passo a fazer é o de
aproximar-se dele: «Quem vem a mim, não terá fome» (6,35).
Memória do martírio de Santo Estevão nos
recorda quais são as consequências do aproximar-se de Jesus, nutrindo-se dEle.
Se fizermos assim, e se assim desejarmos, não podemos senão tornar-nos como Ele
e seremos chamados a, não somente nutrir-nos com o Pão da Vida, mas também, a
fazer de nossa vida um pão do qual os outros possam nutrir-se, e que possam
também desprezar e pisotear. Como Estevão, somos chamados a não temer expor a
nossa vida e colocá-la à disposição, como se faz com um pão posto sobre a mesa,
para que todos possam servir-se, na medida de sua fome ou, e isso pode também
acontecer, na medida de sua gula, ou ainda, na sua saciedade que os leva a
desperdiçar, a desprezar, a pisotear: «E apedrejaram Estevão, que orava...» (At
7,59). Escutando, uma vez mais, as palavras de Jesus e contemplando o
testemunho de Estevão, não podemos senão reconhecer como, no nosso coração,
frequente e voluntariamente, a bulimia dos sinais seja diretamente proporcional
à anorexia da fé.
Semeraro, M.,
Messa Quotidiana, Bologna, Aprile 2013, 168-170.
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