Com o apóstolo Felipe, também nós somos convidados, hoje, a subir no «carro» (At 8,29) com o qual viajam ainda, sobre nossas estradas, homens e mulheres semelhantes a aquele eunuco «que tinha vindo para o culto em Jerusalém e estava retornando» (8,27-28) à sua vida de sempre. Parece que ele retorne com uma pergunta a mais... quem sabe, talvez com algum tormento à mais. O texto torna muito explícito e, através da citação exata, permite-nos entrar no tormento deste homem que, aparentemente rico e fortunado, mas na realidade, tão pobre e, sobretudo, dolorosamente sozinho: «A passagem da Escritura que estava lendo era este: “Como uma ovelha, ele foi conduzido ao matadouro, e como um cordeiro mudo diante daquele que o tosa, assim ele não abre a sua boca. Na sua humilhação o juízo lhe foi negado, a sua descendência quem poderá descrevê-la? Porque foi arrancada da terra a sua vida”» (8,32.33).
Encontrar este texto do profeta em pleno tempo pascal nos recorda como e quanto o nosso Senhor Jesus tenha sido como uma flor arrancada, que também deu o máximo de seu perfume no mesmo momento em que a sua vida foi cortada para ser oferecida, exatamente como se faz com uma flor perfumadíssima e bela, quando é arrancada para ser oferecida em dom. Mas, recorda-nos também que, se Cristo é um arrancado, também cada um de nós o é, na própria vida. Existem, de fato, vidas que foram truncadas, e outras, ao contrário, que espontaneamente se revelaram caducas, e até mesmo, enganosas e ilusórias. Com tudo isto é necessário aprender a estimar-se, sem temor e com uma capacidade de metabolização tal, que a relação cotidiana com as Escrituras deveria tornar sempre mais iluminante e serena. Este homem, tão rico e tão pobre, tornando de sua viagem a Jerusalém, onde foi para rezar no Templo do Senhor, voltando para casa, deve criar um laço, não fácil e nunca imediato, entre a oração e a vida, entre o culto e a existência.
O apóstolo Felipe é mandado «adiante» (8,29) justamente para colocar-se ao lado deste homem e ajudá-lo a acolher, de um modo mais verdadeiro e sereno, o mistério de sua existência, resgatando-o de uma solidão que seria demasiadamente dura, criando assim um laço entre a sua experiência e aquela da páscoa de Cristo. Por isso, sucede naturalmente que o eunuco se sinta tão participante do mistério que Felipe lhe anuncia, que pode dizer, com simplicidade: «Eis, aqui temos água; que coisa me impede que eu seja batizado?» (8,36). Que coisa pode impedir que ele seja incorporado a Cristo, com a profissão de fé de quem já foi associado a Ele através da experiência da «humilhação» (8,33)? A este ponto, sentimos todo o sabor e toda a força da palavra do Senhor Jesus: «Ninguém pode vir a mim se não o atrai o Pai, que me enviou; e eu o ressuscitarei no último dia» (Jo6,44). Trata-se do «dia» no qual deixamos penetrar a luz pascal nas dobras mais sombrias e dolorosas de nossa vida. Todo esperamos e para todos devemos esperar que chegue o aconteceu para o funcionário de Candace: «Pleno de alegria, prosseguia sua estrada» (At 8,39). Tudo parece igual, mas tudo está diferente, sobretudo a solidão não é mais a mesma.
Semeraro, M., Messa Quotidiana, Bologna, aprile 2013, 187-189.
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