sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

20 de dezembro - Anúncio a Maria



Anunciação, Jean Marie Pirot (Arcabas)
As palavras da coleta deste dia nos permitem entrar diretamente no mistério de Maria, como ícone da Igreja e modelo de todo fiel: «A Virgem imaculada acolheu vosso Verbo inefável e, como habitação da divindade, foi inundada pela luz do Espírito Santo». O olhar da Igreja sobre o mistério de Maria, que lhe serve de espelho, é aquele de um espaço que, exatamente porque «o Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra» (Lc 1,35) torna-se um espaço de salvação, digno de ser chamado «habitação-templo». Deste templo, hoje a liturgia nos faz contemplar a «chave de Davi que abre as portas» (antífona do magníficat e aclamação do evangelho da missa). 
Misteriosamente, ainda antes do anúncio do anjo, parece que o coração de Maria já seja completamente aberto e que, nela, não exista nada que precise ser forçado, mas tudo está já pronto para que cada coisa se realize. Talvez o «sinal» (Is 7,14) que Maria é, vem precedido pelo sinal que a torna reconhecível ao anjo Gabriel «entre milhares de milhares» (Ct 5,10) e é por isso que a coleta a indica como parâmetro para que o mistério da Encarnação possa atualizar-se ainda no coração dos fiéis: «Concedei que, a seu exemplo, abracemos humildemente a vossa vontade». Bem diverso é o modo de reagir de Acaz (Is 7,11), que parece fechado por detrás da porta de uma certa devoção, que esconde o medo de confiar-se e de arriscar, com Deus, um percurso novo, de esperança e de vida. Maria é a mulher que se pergunta a si mesma e que tem coragem de perguntar ao anjo, mas com o tom justo: humildemente. Não se esgotará jamais a importância deste instante da história que mudou tudo e sobre o qual, a meditação da Igreja parece inesgotável. 
Amadeo, bispo de Losana – monge cisterciense e contemporâneo de São Bernardo – exprime admiravelmente com estas palavras: «Nós te pedimos, dize-nos qual sentimento te comoveu, qual amor te tomou, quando estas coisas se realizaram em ti, quando o Verbo tomou o teu espírito, os teus sentidos e a tua mente?»[1]. Tudo isto não pode estar senão envolvido pelo mistério de uma intimidade inviolável, mas, para nós fica tarefa de imitar a atitude de Maria, que «humildemente» sabe confiar sua vida, aceitando tornar-se guardiã da vida tão vulnerável do Verbo, que tenta fazer-se carne, para tornar-nos participantes de sua mesma vida divina. Uma palavra podemos levar no coração, como «sinal» (Is 7,14) e é aquela do anjo: «O Senhor é contigo! (Lc 1,28).
Fra Michel Davide OSB

[1] Amedeo di Losanna, Omelie mariane 3.

Um comentário:

donaleo disse...

O Senhor é conosco!