domingo, 9 de novembro de 2008

Presença

9 de novembro, dedicação da Basilica de Latrão

Presença

Desde o início, na tradição da Igreja, como também nas outras religiões e crenças, a dedicação de um lugar de culto é ocasão de grande festa e motivo de intensas emoções. Antes de tudo porque um lugar para a oração e o culto é un espaço onde refulge a beleza e, por isso, é fruto de um longo e apaixonado trabalho, no qual, cada um comtribui do seu modo: com criatividade artística, com trabalho braçal, ou simplesmente, com o sustento econômico. Todos estes motivos fazem com que um lugar de culto recolha e manifeste o melhor de uma comunidade, e expresse os aspectos mais louváveis e dignos. Motivo de festa pois, e de recíproco admiração, pela obra realizadea e pelo sustento dado, mas também motivo de maravilhamento. O mesmo Salomão, dedicando o templo de Jerusalem, exclama: «Eis os céus dos céus não podem conter-vos, muito menos esta casa que eu vos construí» (II Cr 6,18). Hoje fazemos memória da Dedicação da basílica de Latrão, que é a catedral do bispo de Roma, que já Santo Irineu de Lion reconhece como «superintendente da caridade»: por isso se é a festa da Igreja de Roma, é também a festa de todos aqueles que, com esta Igreja, estão em comunhão.

A memória solene – que este ano é ainda mais perceptível pelo fato de ser em um domingo – da dedicação do Latrão, é um convite a renovar a nossa sensibilidade para com aquele «mistério da presença» do qual cada lugar de culto é memória: Deus não habita um lugar – sempre muito estreito para a sua imensidão – mas se faz presente. O profeta Ezequiel, em uma das suas visões, pode contemplar o mistério do templo em relação com o mesmo mistério da criação, sempre a serviço da vida e do seu crescimento, através do símbolo da água que saía «na direção do oriente» (Ez 47,1). O mesmo profeta acrescenta: «Todo ser vivo que se move, onde que que chege esta torrente, viverá [...] e lá, onde atingirá a torrente, tudo reviverá» (47,9). Toda vez que nos recolhemos na igreja para rezar – seja pessoal ou comunitariamente – é como se fizéssemos um passo na direção desta torrente de vida, para que sejamos mais imediata e profundamente envolvidos, Nós reconhecemos que o templo do qual brota a água que cura e vivifica é «o ]templo de seu corpo» (Jo 2,21), como nos recorda João, no evangelho de hoje, referindo-se diretamente ao Senhor Jesus, de cujo lado transpassado sobre a cruz sairá «sangue e água» (19,34).

A mesma estrutura arquitetônica das basílicas românicas reproduz, na planta, a forma de um corpo humano, onde a cabeça é o presbitério, tendo como centro o altar. Entrando na igreja e participando da celebração dos mistérios, reconhecemos a presença do Senhor, que nos torna – através da comunhão com o seu corpo e sangue – «templos de Deus» (ICor 3,16). Na medida em que nos deixamos habitar pela presença de Deus, que é o seu Espírito dentro de nós, seremos nós mesmos, na vida de cada dia, um «mistério de presença» que ajuda os nossos irmãos e irmãs a sentirem-se menos perdidos e solitários, e mais cuidados e acompanhados pela ternura de Deus. Um padre siríaco, Balai, em um hino para a dedicação de uma igreja, diz estupendamente: « A onipotência divina poderia ter levantado uma morada com a mesma facilidade com que, com um gesto, fez existir o universo. Mas ao contrário, construiu o homem, para que o homem a construa para Ele». Ora, cabe a nós construir um templo para Deus no nosso coração e de mantê-lo puro de tudo o que contrasta com os sentimentos do coração de Cristo, exatamente como mantemos belas nossas igrejas, para que o Senhor Jesus não seja obrigado, ainda uma vez, a utilizar «um chicote» (Jo 2,15)!

Fratel Michel Davide OSB


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