sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Os dois sinais


Reflexão para 6a quinta-feira do tempo comum
Gn 9,1-13; Sl 101; Mc 8, 27-33

Hoje, somos convidados a abrir os nossos olhos e o nosso coração sobre dois
sinais que, na realidade, são um só: o arco-íris no céu e a cruz sobre a terra. O Senhor Deus, depois de ter purificado a terra com as águas do dilúvio, concluiu este momento difícil e trabalhoso na sua relação com a humanidade, com uma solene promessa: «o meu arco coloco sobre as nuvens e ele será o sinal da aliança entre mim e a terra» (Gn 9,12). Poderíamos perguntar-nos o que existe de novo entre a primeira criação e esta espécie de segunda criação, assinalada com uma nova benção. Na realidade, existe muito de novo! De certo modo, com o advento do arco-íris, é como se o mundo, agora, ficasse colorido, e o mundo anterior, ainda que fosse «coisa muito boa» (Gn 1,31), é como se mostrasse toda a palidez do preto e branco. De fato, depois do dilúvio, tudo é como antes, mas nada é como antes, porque à benção renovada e à fecundidade de novo auspicada, acrescenta-se «o temor e o terror» (9,2). Verdadeiramente, se a aliança pode ser renovada, a história não pode ser anulada! O longo tempo do dilúvio que durou «quarenta dias e quarenta noites» (7,12) e o tempo ainda mais longo para que a terra fosse enxuta pela divina misericórdia, deixou um sinal indelével: a vida é dada outra vez vez, mas, em relação ao estado precedente, é mais complexa e as relações entre os homens e criaturas são mais exigentes, por se levar em conta uma série de riscos, comportada com a perda da ingenuidade da primeira hora. De fato, se é verdade que o Senhor promete solenemente: «Não destruirei mais nenhum vivente pelas águas do dilúvio» (9,11), é aceita também a hipótese de alimentar-se de «tudo o que se move e que tem vida» (9,3) e das tentações, continuamente a serem enfrentadas, de esquecer que será «pedido contas da vida do homem ao homem, à cada um de seu irmão» (9,5). Quando o arco-íris resplandece no céu, com suas sete cores, todos ficamos absortos e admirados e como que tocados por uma profunda consolação, mas não podemos esquecer que ele é um dúplice sinal: Deus colocou seu arco e nunca mais nos fará nada de mal, mas nós humanos, temos ainda o nosso arco entre as mãos, e a aljava cheia de flechas, pendurada nas costas, e devemos continuamente tomar decisões... algumas vezes, graves. É neste mundo e neste modo de responsabilidade que o Senhor Jesus, pela primeira vez, «abertamente» (Mc 8,32), introduz os seus discípulos no mistério pascal, que assignará a maturidade da sua relação, e o cumprimento da sua missão: «Começou a ensiná-los que o Filho do homem devia padecer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas, ser morto e, depois de três dias, resssuscitar» (8,31). Tudo isto - e em verdade não falta nada, porque o horizonte da ressurreição, com o qual os discípulos parecem ter pouca habilidade (cf. 9,10) - o Senhor Jesus «começou» a ensiná-lo justamente no momento do maior entusiasmo e da maior clareza, assim como lhe veio expresso por Pedro: « Tu és o Cristo!» (8,29). Mas isto não significa entrar em um halo de otimismo messiânico, mas muito mais em abraçar uma vida que pensa e age «segundo Deus» (8,33). E isto não é fácil para ninguém, e não é, certamente, algo que se improvise ou que venha por si só: «Pedirei contas da vida do homem ao homem, a cada um de seu irmão» (Gn 9,5). Fra Michel Davide OSB

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