quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O homem Merkabah do Senhor

«O beato profeta Ezequiel narra uma visão e uma aparição divina e gloriosa que contemplou ( cf. Ez 1,1s; 10,2s), e a descreveu plena de mistérios inefáveis. Viu, de fato, na planície, um carro de querubins, quatro eram os viventes espirituais, dos quais, cada um tinha quatro faces: a primeira era de leão, a segunda de águia, a terceira de touro e a quarta de homem. Cada face era provista de asas, de modo que não se distinguiam nem a parte anterior, nem a posterior. O seu dorso era coberto de olhos, e também o seu ventre, e não havia neles nenhum lugar que não estivesse cheio de olhos, e ao lado de cada face, existiam rodas, encaixadas umas nas outras; e, nas roda, havia um espírito. E viu uma aparência de homem sentado sobre elas; o escapelo de seus pés tinha a aparência de uma safira. O carro levava o querubim, e os seres vivos levavam o Senhor-Condutor que os conduzia. Onde quer que andasse, era sempre na direção de um dos rostos. E viu sob o querubim como que uma mão de homem, que o sustentava e o carregava.
O que o profeta percebeu como real era verdadeiro e indubitável. Todavia , a visão deixava entrever uma outra realidade e figurava uma coisa misteriosa  e divina, um mistério escondido, na verdade, por séculos e gerações (Cf. Col 1,26), mas que tornou-se visível nos últimos tempos (Cf. 1Pd 1,20) através da manifestação de Cristo. O profeta, de fato, contemplou o mistério da alma que recebe o Senhor e se torna o trono de sua Glória ( cf. Mt 19,28; 25,31). Porque a alma, julgada digna de comungar com o Espírito na sua luz, e toda iluminada pela beleza de sua glória inefável, que a preparou para que se torne um trono e morada para Ele, esta alma se torna toda ela luz, toda ela rosto, e toda ela olho. Nela não existe mais nada de obscuro, mas tornou-se toda inteira espírito e luz; está toda cheia de olhos, não tendo mais nem parte anterior nem posterior; mas sendo em cada lado, rosto, enquanto é elevada acima de si e, ali, repousa a inefável beleza da glória luminosa de Cristo.
Como o sol é de todos os lados, idêntico a si mesmo, não tendo nem parte posterior nem inferior, mas sendo todo ele resplendente de luz, todo inteiro luz, sem nenhuma diferença entre as suas partes; ou como o fogo, o esplendor mesmo do fogo, é por todos os lados semelhante a si mesmo, não tendo em si, nem face anterior ou posterior, nem alguma coisa de maior ou menos, assim a alma, perfeitamente iluminada pela inefável beleza da glória luminosa do Rosto de Cristo, em comunhão com o Espírito Santo, julgada digna de se tornar morada e trono de Deus, aquela alma se torna toda olhos, toda luz, toda rosto, toda glória e toda espírito. Deste modo, o Cristo a prepara, carrega-a e conduz, sustenta-a e lhe dirige, Ele a arruma e adorna de beleza espiritual. Está escrito, de fato: «uma mão de homem estava sob os querubins» (Ez 1,8; 10,8). Porque aquele que é levado por este carro é, também, aquele que o conduz.
Os quatro seres vivos que levavam o carro eram a figura das faculdades que regem a alma. De fato, como a águia reina sobre as aves, o leão sobre os animais selvagens, o touro sobre os animais domésticos e o homem, sobre a criação, assim acontece com as potências da alma, que reinam sobre as outras. Trata-se da vontade, da consciência (moral), do intelecto e da faculdade de amar. Elas dirigem o carro da alma, e nele, Deus repousa. Mas, segundo uma outra interpretação, a visão de Ezequiel aplica-se à Igreja celeste dos santos. Como este trecho conta que os seres vivos estavam nas alturas, cheios de olhos, e que era impossível enumerar aqueles olhos, assim também medir a sua elevação, porque não era cabível no conhecimento; assim também é dado a todos os homens o contemplar e admirar as estrelas do firmamento, mas não de conhecer nem de precisar-lhes o número; e ainda, como é dato a todos de usufruir das plantas da terra, mas não de poder contá-las, assim também é a Igreja dos santos no céu: entrar ali e saborear as delícias é dado a todos que querem combater, mas conhecer o número e fazer as contas, pertence somente a Deus.
O Condutor vem, pois, conduzido e levado pelo carro e pelo trono dos seres vivos que são todos olhos, isto é, de toda alma que se tornou o seu trono e sede, desde quando se assentou nela e a dirige com as rédeas do Espírito, conduze-a onde lhe parece justo. De fato, como os seres vivos espirituais não podiam andar onde queriam, mas deviam seguir a vontade e as intenções daquele que lhes montava e lhes dirigia, assim é Ele que tem as rédeas da alma e a conduz com o seu espírito; eles, de fato não avançam seguindo a sua vontade; e às vezes, agrada-lhe vir no corpo e nas faculdades; às vezes ainda, agrada-lhe chegar até às extremidades da terra, para conceder-lhe a revelação dos seus mistérios (cf. Rm 16,25). Ótimo, benéfico, único vero Condutor! Os próprios corpos serão honrados no dia da ressurreição, enquanto a alma já é glorificada antes e unida ao Espírito»[1].


[1]Macario il Grande, Hom I, 1-3, PG 34, 451AB; Les homélies spirituelles de saint Macaire, Spiritualité Orientale n. 40, Abbaye de Bellefontaine 1984, 89-91.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Querer tudo e contentar-se com pouco


O dom de saber maravilhar-se está em estreita relação com pobreza: o frescor do olhar depende da capacidade de desembaraçar-se de si mesmo e está ligada à simplicidade de reconhecer que não se tem nenhum direito: quê coisa possuímos que não nos tenha sido dada? (cf. I Cor 4, 7). E, no mesmo sentido, o dom de maravilhar-se é muito próximo do espírito e infância. Não se trata aqui de uma regressão infantil; não se deve tender à infância como uma parada no crescimento ou uma volta atrás, ms caminhar na direção da infância futura, que está na ordem do Reino.
O segredo do espírito de maravilhar-se reside, talvez, na capacidade de conjugar duas atitudes quase contraditórias: aquela de querer tudo e aquela de contentar-se com pouquíssimo.
Mas estas duas atitudes não podem estar uma sem a outra. Querer tudo, agora, é impaciência do desejo, o estágio do lactente. E crescer é aprender a transformar as necessidades em desejos e administra-los. Querer tudo é viver na irrealidade que sempre desilude, porque aquele desejo imediato recai sobre nós, como uma acusação de insucesso e de impotência. Então, é verdadeiramente a morte do maravilhar-se.
Por outro lado, contentar-se unicamente com pouquíssimo é insidiar-se na mediocridade, é ter podado tanto as asas de nossos desejos, que eles não se sustentam mais. Estar satisfeito a preço baixo: atitude do cético, também ela é a morte do maravilhar-se.
Existe, no entanto, em cada uma destas atitudes, alguma coisa de justo: querer tudo corresponde aquele desejo do infinito em nós, é o que nos caracteriza como seres humanos, chamados a ser infinitamente mais do que somos. E isto é sinal de que fomos feitos por Deus para nos tornarmos seus hóspedes e seus amigos. Mas, por isso mesmo, este desejo infinito não deve fixar-se e finalizar-se em outra coisa que não seja Deus mesmo e seu Reino. Desejar infinitamente alguma coisa finita não seria o cúmulo do absurdo? É esta, no entanto nossa eterna tentação. Eis porque – e aqui a fé alcança a psicologia – este desejo deve ser continuamente reconduzido para além de si mesmo.
Por outro lado, ainda, contentar-se com pouco esconde uma sabedoria, um sadio realismo, uma autêntica humildade, a consciência de viver num mundo em transformação e de estar em uma situação de exílio e de êxodo. Já pudemos experimentar o quanto as coisas sejam difíceis e como poucas sejam bem sucedidas, e nunca aos cem por cento. Sim, é sabedoria saber reconhecer o que é positivo, mesmo se está situado mais próximo do nada do que do tudo. Sim, é sabedoria dizer: «não é tudo, mas é mais que nada!».
É igualmente verdadeiro, porém, que este são realismo não pode manter-se como sabedoria autêntica, pobreza espiritual e fonte de maravilha se ele não é substituído pelo desejo infinito, que o eleva e, imensamente, o dilata. Como também, o desejo infinito não pode permanecer abertura sobre o futuro se ele não for substituído pela cotidiana disponibilidade de contentar-se com pouco. E assim, o presente, na sua relatividade, nas suas ambigüidades, não será desvalorizado pela expectativa do futuro, quer dizer, do Reino. Na verdade, querer tudo e contentar-se com pouco é o segredo de uma maravilha que não é nem ingênua nem ilusória.
P.-Y. Emery, Le don d’émerveillement, 200-201.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O Sagrado e a Dessacralização


Hoje devemos considerar o sagrado, a sacralização e a dessacralização de um modo totalmente novo. Isto é, devemos purificar a noção de sagrado, da qual fizemos mau uso durante muito tempo. Não se trata de nos subordinarmos à época na qual vivemos, a qual tende a não mais reconhecer o verdadeiro sagrado, mas de compreendermos — e não sem esforço — que o sagrado não se encontra no nível em que foi situado há bastante tempo.
Há séculos não cessamos de banalizar o sagrado e de projetá-lo em zonas que não lhe convém. Confundimos também o sagrado com o religioso, quando eles diferem totalmente um do outro. A tendência para esvaziar o religioso provocou um vazio que tentamos encher com alguns ersatz (em alemão: substituto, aqui utilizado como um "quebra-galho")  do sagrado. Isso multiplica os subprodutos de substituição. Com relação ao sagrado, eles se parecem com flores de plástico comparadas com as naturais; apesar de produzirem algum efeito, são falsas.
A obra de dessacralização realizada pelo mundo moderno, embora difícil de suportar, não é de modo algum blasfematória. Essa operação certamente desmantela, destrói e aniquila, mas nos permite ver com mais clareza, porque nos desintoxica. Os pseudo-guardiães que foram nossos pais, aos quais sucedemos, deslocaram o sagrado, observando-o e venerando-o em sua deriva. Ora, a mistura é mais nociva do que a rejeição global. Com efeito, a perda do sagrado é preferível a ambivalências mentirosas, do mesmo modo que o ateísmo leva vantagem sobre a idolatria.
Com relação ao sagrado, podem ser apresentadas duas proposições: 1) Deus é sagrado. — 2) Conseqüentemente, o mundo não é sagrado, mas profano. Do criado, nada é sagrado. Tal é, pelo menos, a originalidade do judeu-cristianismo, ao qual o Ocidente está ligado. Essa é também uma diferença maior entre o monoteísmo e o politeísmo. Poderíamos dizer, embora reconhecendo que tal comparação pode parecer estranha: da mesma forma que o homem não é naturalmente monógamo, também não é naturalmente monoteísta; ele é naturalmente idolatra. Isso não significa, de forma alguma, que, para se aceitar a monogamia ou o monoteísmo, deva-se fazer apelo ao sobrenatural. Este termo não tem aqui nenhum interesse. O judaísmo e o cristianismo combateram os deuses da Antigüidade e a sacralização dos lugares e dos objetos. E foram ao mesmo tempo vencedores e vencidos, continuando as tendências arcaicas sempre vivas na maioria dos homens. É somente por uma constante metanoia , logo, por uma conversão, por um retorno, que o homem pode tornar-se capaz de dar a Deus o que é de Deus, e à natureza o que pertence à natureza. Do mesmo modo — como veremos — que a mistura do temporal com o espiritual foi catastrófica para os cristãos, a mistura do sagrado com uma falsa sacralização é terrivelmente nociva.
É, pois, por extensão — e por falta de rigor — que se pode falar em terras sagradas, em lugares sagrados, em fontes ou árvores sagradas, em vasos sagrados, em ornamentos sagrados, em funções sagradas etc. Do mesmo modo, é por extensão, como as formas de linguagem, que se pode fazer referência a uma língua sagrada, a uma arte sagrada, pintura ou música (NA: Todavia, a expressão "arte sacra" está em uso. E a Encyclopédie des musiques sacrées, dirigida por Jacques Porte (Mame, Paris, 1968ss). Enfim, nenhum grupo ou coletividade são sagrados; uma sociedade pode considerar-se secreta, mas isso não a torna sagrada.
É evidente que se pode pensar e escrever, embora com repugnância, sobre aquilo que, por falta de precisão, chamamos sacralização cristã atual. Em princípio, ela consiste num retorno às origens, com certa liberdade de expressão; na realidade, ela chega a um perigoso desleixo, carregado de fantasia e, no mais das vezes, de mau gosto.
Facilmente chamamos de dessacralização as mudanças, as modificações de usos e hábitos que se sucederam nos últimos vinte anos. Se estudarmos, por exemplo, a evolução daquilo que durante muito tempo foi chamado "missa" (NA: Ver, a este respeito, Joseph-André Jungmann, Missarum Sollemnia, Aubier (col. Theologia, 3 vol.), Paris, 1956.), traz excelentes estudos, precedidos de um prefácio notável.), poderemos dizer que uma música gregoriana — para a celebração eucarística — causaria surpresa aos cristãos da jovem Igreja; mas eles não veriam nada de mais, como poderíamos ver hoje, na música pop e nos cânticos infantis. Na maior parte das igrejas, a liturgia perdeu os efeitos sacralizantes que tinha outrora. Em muitos ela provoca um incoercível aborrecimento, até mesmo irritação e lassidão.
Mesmo permanecendo fiéis às nossas escolhas, lembremo-nos bem de que os ritos, os ofícios, os próprios sacramentos passaram por uma evolução mais ou menos lenta. As religiões, do mesmo modo que a liturgia, adaptaram-se às épocas e aos climas. A sua evolução é perfeitamente normal. As modificações nos desagradam, porque, impelidos pelas vagas do tempo, temos necessidade de que exista algo estável. A caminhada sobre a areia solta nos esgota, mas nos lembra que não devemos lançar raízes nela. O que pertence ao tempo não pode comportar um valor eterno.
Alguns dentre nós experimentam um verdadeiro sofrimento quando vêem o mau uso que às vezes é feito de igrejas e mosteiros desocupados. É penoso constatar que tais lugares — não sagrados, mas sacralizados — são usados como cinemas, mercados, etc. Podemos sentir-nos reconfortados quando vemos novas fundações religiosas instalarem-se em mosteiros que tinham sido abandonados por falta de religiosos ou simplesmente por motivos de ordem econômica. Quando se trata, por exemplo, de igrejas em estilo romano, de mosteiros cartuxos, de abadias cistercienses, que não correspondiam mais à sua finalidade, podemos entristecer-nos; esses escrínios maravilhosos parecem privados de sua verdadeira vida. Visitamo-los como a monumentos pertencentes ao passado.
O desapego em relação ao tempo e à história exige que possamos contemplar esses lugares de beleza e de prece sem nostalgia, aceitando as mudanças inerentes à condição humana. Os monges não se apegam a essas moradas situadas no espaço; a prova é que as deixam sem dificuldade, se bem que humanamente sintam saudade da harmonia das capelas e dos claustros e também do ambiente favorável ao silêncio e à oração. Eles sabem que o recolhimento se situa no coração e que é aí também que se encontra a beleza. Somente a interioridade torna livre. Os monges errantes da Índia, os sannyasis, andam de gruta em gruta, de caverna em caverna, de floresta em floresta.
A verdadeira morada é dentro; o importante é, pois, construí-la. O mosteiro exterior se eleva pela adição de pedras sobre pedras; o mosteiro interior resulta de um desaterro. Essas duas operações são rigorosamente diferentes. No século XII, as abadias e os mosteiros recobriam grandes áreas e possuíam terras e florestas. Hoje tais riquezas seriam escandalosas frente aos "pobres". Daí a tendência atual para a formação de grupos pequenos. É verdade que, a despeito de um aumento de vocações, os monges estão se tornando cada vez menos numerosos, e isso por muitos motivos. Todavia, a vida contemplativa normalmente precisa do quadro da natureza e de sua beleza. Quem desprezasse esse dado demonstraria falta de profundidade.
Apesar de ser lugar da Palavra e da Aliança divina, o deserto não é um lugar sagrado, como não o são as montanhas nas quais o Eterno se manifestou, como o Sinai, o Horeb e, com Cristo, o Tabor. O templo não é sagrado, se bem que seja "consagrado" e dividido em dois, com um coro reservado aos oficiantes e uma nave destinada aos leigos. Essa dualidade tem um caráter simbólico, que indica uma hierarquia.
Convém perguntar-se por que, no Ocidente, com o passar dos séculos, o homem "desviou" a noção de sagrado, estendendo-a ao que não dizia respeito a ela.
A resposta é simples. O pagão permaneceu presente no judeu e no cristão; reprimido neles, tende sempre a emergir. Assim a sacralização do profano coincide com uma dessacralização, uma profanação do sagrado (NA: Cf., a este respeito, o artigo muito sugestivo de Jacques Ellul, "La désacralisation par le christianisme et la sacralisation par le christianisme" in Corps écrit, 2 Champ du sacré, PUF, Paris, 1982, pp. 141s.). Quando os grupos e as seitas tendem hoje a multiplicar o sagrado, quando os integristas se aplicam nesse sentido, fazem obra de dessacralização. Ainda uma vez, sagrado é somente Deus. As "imagens" não participam desse sagrado, a não ser por derivação.
O homem moderno perdeu o sentido do temor em relação ao Deus sagrado. Relendo a obra de Rudolph Otto sobre o sagrado (Das Heilige), escrita em 1917, percebemos as mudanças que se efetuaram nos níveis religioso e psicológico. Estamos muito distanciados desse Mysterium Tremendum, que hoje não provoca mais nenhum sentimento de pavor. O homem moderno não saberia considerar-se "cinza e pó" como Abraão.
Exerceria ainda o sagrado algum poder de fascinação, mesmo relegado ao inconsciente? É provável. Privado de Deus, o homem sente vertigem, embora ignore que está longe de Deus. Incapaz de viver num espaço vazio, ele tenta enchê-lo, sacralizando-o com a introdução de termos "sacralizados" no vocabulário mais banal (NA: O mesmo se dá com as religiões. Quando elas se enfraquecem, o termo é facilmente empregado em tom jocoso. Recentemente um jornal vespertino dava como título a um artigo. "As três 'religiões' da Aquitânia: rúgbi, touros e mesa!"). Profanando o sagrado até desnaturá-lo, o homem sofre as conseqüências de sua blasfêmia. Somente o puro pode aproximar-se do sagrado; ora, a impureza em todas as suas formas sempre seduz o homem em sua necessidade de disfarçar, de caricaturar, digamos mesmo, de destruir. Essa quase necessidade de destruição fornece a prova de que o homem, parodiando o sagrado, não se desinteressa dele.
A falsa sacralização que, há vários anos, não cessa de se desenvolver na França, provém de uma tendência muito elaborada e nitidamente anti-judaica e anti-cristã; ela se manifesta por um retorno constante ao estudo da Antigüidade, seja do Egito, da Grécia, de Roma, seja dos mitos das sociedades primitivas. O que se costuma chamar, com ou sem razão, de "nova direita", esforça-se por exaltar o pensamento arcaico. Por outro lado, grupos e também indivíduos isolados se entregam, em menor escala, a uma outra forma de sacralização dessacralizante, propagando um interesse crescente pelas ciências ocultas. Pode-se falar, com referência a uns e outros, de uma tendência — nítida demais para ser involuntária — de distrair o homem moderno de sua realidade específica. Os estudos sobre os mitos, as imagens, os símbolos, são feitos nessa perspectiva. Nunca se trata de encaminhar para uma experiência concernente à dimensão de profundidade. O homem moderno pode encontrar em seu inconsciente elementos que lhe permitam coincidir com um arcaísmo do qual ele nunca se libertou totalmente, a menos, contudo, que tenha adquirido o que se poderia denominar metaconsciência. O estudo das sociedades primitivas, dos diferentes fenômenos religiosos, dos modos de sacralização, pode interessar aos historiadores das religiões e proporcionar um conhecimento do passado que não poderíamos desprezar; contudo, uma vez mais, esse tipo de saber pode levar e leva de fato a uma pseudo-sacralização monstruosamente dessacralizadora.
Por isso, o homem moderno se acha entre o martelo e a bigorna: de um lado, o materialismo político e social; do outro, uma outra forma de materialismo "aureolada", tão anestesiante como a primeira. Os extremos se tocam, e a serpente sempre acaba mordendo a própria cauda!
A sacralidade cósmica se apresenta como hierofania que manifesta o sagrado, mas não o constitui. Como observou Mircea Eliade, em sua obra O Sagrado e o Profano (Gallimard (col. Idées), Paris, 1965; em português pela Martins Fontes), "o espaço não era homogêneo" para a mentalidade arcaica. Assim o Eterno disse a Moisés: "Não te aproximes daqui; tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é uma terra santa" (Ex 3,5).
Existe uma diferença fundamental entre o sagrado e a santidade. A consulta de uma Concordância bíblica permite ver a raridade do termo "sagrado", ao passo que os termos "santo" e "santidade" aparecem com freqüência. Deus é sagrado e não comunica seu caráter sagrado. Mas ele é santo e comunica a sua santidade. Assim, na Igreja primitiva, falava-se da santidade do povo de Deus, e são Paulo, dirigindo-se às diversas comunidades, qualificava seus membros de "santos".
Havia lugares "santos", nos quais não se podia entrar sem preparação; somente certas pessoas podiam entrar neles. A. J. Festugière cita o caso de Toas, que, não ousando penetrar no átrio do templo de Táuride, de fora chamou Ifigênia, pedindo-lhe que viesse até a porta. No templo de Jerusalém, o segundo átrio — chamado "o Santo" (to hágion) — era proibido aos gentios sob pena de morte (NA: Cf. A. J. Festugière, La Sainteté, PUF, Paris, 1942, pp. 7 e 9.). Não se tocava impunemente nas coisas santas. A relação entre santo e sagrado provém da "separação" que exigem.
Emanuel Levinas observa que "a Mishna nunca fala do sagrado" (NA: Du sacré au saint. Cinq nouvelles Lectures talmudiques, Ed. de Minit, Paris, 1977, p. 82.), e que "o sagrado... é a penumbra na qual floresce a bruxaria, que o judaísmo abomina" (Ibid.)". Com efeito, "a bruxaria, prima coirmã, se não irmã, do sagrado — parenta um pouco desacreditada, mas que, na família, se beneficia das relações de seu irmão, recebido no melhor mundo — a bruxaria é a mestra da aparência" (Ibid, pp 89-90). Não se poderia falar com mais exatidão e humor.
Se a bruxaria é denunciada de modo particular no Deuteronômio e no Êxodo, se bruxos e bruxas eram condenados a "não viverem", isto é, a serem executados, como o foram mais tarde na Idade Média, era em razão mesmo dessa degradação do sagrado e da degenerescência que provocavam. A bruxaria nasce de uma perversidade do coração e da inteligência, não só condenável em si mesma, mas também contagiosa em seus efeitos.
Não se deve brincar com o sagrado, nem deformá-lo, deslocando-o de sua realidade e levando-o para o mundo das aparências. Deus não pode ser visto. Do mesmo modo que o sagrado não é objeto de visão. "A bruxaria consiste em querer ver além do que é possível ver (Ibid p. 95).
A esse respeito, Emanuel Levinas faz alusão a um Midrash, no qual uma criada "estava orgulhosa por ter visto o rei" (Ibid. p. 95-96), ao passo que a princesa que ela acompanhava fechou os olhos quando o rei passava. Sem percebê-lo, ela esteve mais próxima do personagem real do que a criada. "A bruxaria é a curiosidade que se manifesta onde é necessário baixar os olhos, é a indiscrição a respeito do Divino, a insensibilidade ao mistério, a claridade projetada naquilo cuja proximidade exige respeito" (Ibid. p. 96).
As palavras de Emanuel Levinas situam perfeitamente o sagrado e seus opostos. Conseqüentemente, ele denuncia, e isso é precioso para nós, "certas formas do 'freudismo'... e certas formas da vida sexual" (Ibid.). Poderíamos dizer, sem exagero, que é rigorosamente falso sacralizar, como se faz habitualmente, a satisfação sexual, falar de êxtase sexual, sacralizando-o. Podemos acrescentar que o "freudismo" é uma das causas de uma pseudo-sacralização que, mais uma vez, deve ser qualificada de dessacralização.
Tal sacralização dessacralizadora provoca hoje um aumento de interesse pela vidência, pelas predições, pelos presságios, pelo espiritismo, pela necromancia e até pelos horóscopos, e uma forma de metapsíquica que procede principalmente de um psiquismo degradado, de uma incapacidade metafísica e sobretudo de uma carência de compreensão espiritual.
Se temos, por momentos, a ilusão de que Deus se retira do mundo, é porque o mundo se retira dele. Afastando-nos de sua presença, temos a impressão de seu abandono. Ora, os ausentes somos nós. Estando ausentes de Deus, afastamo-nos da humanidade. Sacralizar o mundo significa abandoná-lo, não mais amá-lo, já que o amor só é redentor na medida em que passa por Deus, em que vive em Deus, o único sagrado.
Esse é um dos temas de meditação do "eremita" que habita seu deserto interior. Ele está em condições de compreender que a vida do homem é "sagrada" por extensão do termo. Mas, o Eterno está presente na criatura humana. Essa presença justifica e explica a tendência do homem para o sagrado e deveria preservá-lo de todas as desfigurações que não cessam de tentá-lo, enquanto ele não compreender que só Deus é sagrado. O sagrado não convém nem aos lugares, nem aos objetivos, nem ao culto. Pela criação à imagem divina, estando Deus presente no homem, este contém o sagrado à maneira de um vaso. Tal é o mistério do homem. A centelha divina é sagrada, mas o homem, enquanto criatura, pertence ao mundo profano votado à morte. Descobrindo essa centelha divina e atirando-se nela, o homem pode finalmente participar da sacralidade divina.
"A alma e a Deidade são Unidade", escreveu Mestre Eckhart.
DAVY, Marie-Madeleine, O Deserto Interior, extrato trad. de Benôni Lemos, Ed. Paulinas
encontrado neste site.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

A escala do Universo

Essa animação nos conduz ao que de maior se pode imaginar e ao menor também... Fascínio contínuo! Uma viagem para dentro da matéria criada e expandindo seus horizontes.

Foi tirado do site http://www.newgrounds.com/portal/view/525347

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Criatividade haitiana








Este site haitiano de artesanato em metal chama a atenção para vários elementos. Em primeiro lugar, a criatividade quase inesgotável destes artistas, que variam sobre temas simples, encontrando sempre novas formas de abordar um sujeito, sem a preocupação de salvar o direito autoral sobre uma imagem, pois parece que as imagens brotam de uma fonte gratuita, que não se pode simplesmente rotular e vender, cada uma é única, também porque feita à mão e sujeita às inspirações do momento. De alguma forma, este elemento "gracioso" se encontra também nas grandes artes Tradicionais, que seguem cânones, e ao mesmo tempo, revelam-se inesgotáveis na produção e variação sobre os temas que não mudam. Parece ser uma sintonia com o próprio fluxo da vida e da beleza, que não para de circular em tudo e em todos: a Graça. Nosso racionalismo, querendo entender tudo, ou o emocionalismo, querendo somente expressar o que se sente, numa escravidão de subjetivismos pessoais, bloqueiam o fluxo, pois o artista que se encontra no centro de sua arte não deixa espaço para o sopro da Graça, que o levaria a esquecer-se de si mesmo, e até mesmo de sua obra, para tornar-se um, ainda que por tempo limitado, com o Belo. Em segundo lugar, estas obras haitianas mostram que mesmo na pobreza radical, a criatividade funciona maravilhosamente, talvez, até mesmo por causa dela. Sem cortes a laser, sem cortadores especializados, esses artesãos realizam belíssimos trabalhos. E, finalmente, fazem um trabalho de reciclagem não indiferente.

domingo, 15 de abril de 2012

O perdão na Cruz


«Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem» (Lc 23,34)
A primeira palavra que nos é dada hoje é uma invocação ao Pai, pelo perdão daqueles que o crucificavam. Este perdão acontece antes da crucificação, antes dos insultos que eles dirigirão ao Senhor e antes mesmo de sua morte. O perdão vem antes de tudo. Talvez não poderíamos suportar escutar o relato da Paixão de Cristo, se não iniciássemos com o perdão. Antes mesmo que pequemos, somos já perdoados. Não precisamos ganhar o perdão, nem mesmo devemos nos arrepender. O perdão está lá e nos espera.
Tudo isto parece muito bonito, mas não poderia ser também um tanto “condescendente”? Pode parecer que o perdão torna nossos atos irrelevantes. Um casal de amigos meus, algum tempo faz, convidou-me para um período de descanso em sua casa. Eles tem dois gêmeos encantadores, e uma teoria, segundo a qual, lhes é permitido fazer o que quiserem. Podiam quebrar objetos, gritar e urrar, mudar de ideia a toda hora. Voltei para casa depois de ter me divertido muito, mas agradecendo pelo fato de ser solteiro. A teoria dos pais era que os filhos crescerão com um profundo senso de segurança, sabendo que seriam amados sempre, em qualquer coisa que fizessem. Perguntei-me: eles não poderiam também chegar ao ponto de pensar que seus atos fossem irrelevantes? Se você sabe que será perdoado em qualquer coisa que faça, então porque buscar ser bom? «Caro velho Timothy, você acabou de matar mais um de teus irmãos. Tudo é tão desagradável, mas o querido Senhor o perdoará, por isso, não tem importância».
O perdão vem antes de tudo. Isto é o escândalo do Evangelho. Mas não significa que Deus não leve à sério aquilo que fazemos. Deus n\ao esquece que crucificamos seu Filho. Nós não podemos afastar este pensamento de nossa mente. Na verdade, na Sexta feira Santa nos reunimos para escutar o relato da paixão e morte de Cristo e para recordar que a humanidade rejeitou, humilhou e assassinou o Filho de Deus. E somente porque existe perdão é que podemos ousar recordar o mais terrível dos erros cometido pelos homens. O perdão não significa que Deus esquece a Sexta-feira Santa, significa que o Pai ressuscita o Filho no Domingo de Páscoa. Se o perdão significasse esquecer, então Deus sofreria da forma mais grave de amnésia, mas é a imaginação criativa de Deus que toma aquilo que fizemos, e o torna frutífero. A imagem medieval do perdão era aquela do florescer da Cruz. A Cruz é o repugnante sinal da tortura. E o símbolo da capacidade do homem de rejeitar o amor e de fazer o que é totalmente estéril. Mas os artistas medievais mostraram a Cruz que florescia no Domingo de Páscoa, como no mosaico absidal da basílica romana de São Clemente, perto do Coliseu. Do madeiro seco da Cruz surgem os ramos e as flores. O perdão faz viver o que estava morto e torna belo o que era horrível. O perdão significa que a Cruz é a nossa nova árvore da Vida, da qual somos convidados a comer os frutos. No quarto século, São João Crisóstomo escrevia sobre a Cruz:
«A Árvore é a minha salvação eterna, o meu nutrimento e o meu banquete. Entre as suas raízes afundo minhas próprias raízes. Sob os seus ramos eu cresço. Fugindo do calor escaldante, plantei a minha tenda em sua sombra e ali encontrei repouso, fresco de orvalho. Floresço com suas flores. Alegria perfeita trazem seus frutos, reservados para mim, desde o início dos tempos, frutos que agora posso comer livremente. Esta Árvore é comida, doce alimento, para a minha fome, e uma fonte para minha sede, é vestimenta para minha nudez, as suas folhas são hálito de vida. Se temo Deus, esta é a minha proteção, se tropeço, este é meu bastão; este é o premio pelo qual eu luto, a recompensa pela minha vitória. Este é o caminho reto e estreito; esta é a escada de Jacó, onde os anjos subiam e desciam, e em cima da qual, está o próprio Senhor»[1].
O perdão significa que ousamos enfrentar aquilo que fizemos. Ousamos recordar tudo de nossa vida, com as falências e os desastres, com a nossa crueldade e a falta de amor. Ousamos arrepender-nos todas as vezes nas quais fomos mesquinhos e avarentos, e nossas ações abjetas. Ousamos recordar não para ficarmos prostrados e esmagados, mas de modo a abrir a nossa vida a esta transformação criativa. Não nos deixa como estamos, como se nada do que tenhamos feito no passado tenha tido alguma importância. Se entramos neste perdão, ele nos mudará e nos transformará. Qualquer coisa estéril e árida dará frutos. Tudo aquilo que não tem senso, encontrará um significado. Ao final do Senhor dos Anéis – do escritor inglês John Ronald Reuel Tolkien (1892-1973) – Sam esparrama sobre todas os campos queimados do condado, o mágico fertilizante que os elfos lhe deram, e na primavera seguinte, toda árvore floresceu. Esta é uma imagem do perdão.
Jesus pede ao Pai o perdão não somente por aquilo que fazem a ele. Não é crucificado sozinho: estão com ele outros dois homens, um à direita e outro à esquerda. Eles representam todos os milhões de pessoas que crucificamos ao longo da história. Pensemos no holocausto durante a segunda guerra mundial, da qual tantos cristãos foram cúmplices ou, pelo menos, não se opuseram. João XXIII assim rezou:
«Damo-nos contas de que a marca de Caim está sobre a nossa fronte. Através dos séculos, nosso irmão Abel jazia no sangue que cavávamos, ou derramava lágrimas que causávamos, esquecendo o Teu amor. Perdoa-nos pela maldição que nós falsamente ligamos ao seu nome como hebreus. Perdoa-nos por ter te crucificado uma segunda vez na carne deles. Porque não sabíamos aquilo que fazíamos»[2].
Quem são as pessoas que crucificamos hoje, com o nosso imperialismo econômico que produz tanta pobreza? Quem crucificamos con a nossa violência e a guerra? Quem ferimos até mesmo no interno de nossas casas? Porque sabemos que o perdão vem antes de tudo, podemos ousar abrir os olhos.
Uma cruz de madeira esculpida por Michael Finn, meu amigo, que é também pai de um amigo e irmão na Ordem dominicana, o Pe. Richard. Michael é bem conhecido pelas sua pinturas abstratas, mas nos últimos vinte anos, criou crucifixos de extraordinária potência expressiva. Foram esculpido, frequentemente, com restos de madeira depositados pelo mar, que ele e sua mulher, Cely, recolheram durante seus passeios nas praias perto de sua casa na Cornualha, no sudoeste da Inglaterra[3]. Michael morreu no Domingo de Ramos de 2002, o dia em que Jesus entra em Jerusalém para enfrentar a própria morte.
Se o perdão é a criatividade de Deus, que irrompe e transforma a nós, nossas abjeções e esterilidades, então temos necessidade de artistas como Michael para expressá-la no melhor dos modos. A beleza não é decorativa, mas torna visível a obra da graça na nossa vida. A filósofa francesa Simone Weil (1909-1943) disse que a beleza é um sacramento do sorriso de Deus. A arte pode desvelar como mesmo um objeto sumamente repugnante como é a cruz possa chegar a ser visto como belo. No Sonho da Cruz, uma antiga poesia anglo-saxônica, ela é descrita como uma «admirável árvore triunfante sobre os ares – a mais esplêndida das cruzes – toda circundada de luz», irradiando a luz como um farol recoberto de outro, adornado de joias de rara beleza[4]. Conta-se que Miguel Ângelo tinha encontrado um bloco de mármore que um outro artista, tinha arruinado, depois de ter tentado esculpi-lo, sem o conseguir. Miguel Ângelo tirou dele o famoso e gigantesco Davi, hoje me mostra na Academia, em Florença. Isto é o que faz o perdão de Deus, de um modo que supera nossa capacidade de compreensão. O perdão significa que os nossos pecados podem encontrar um lugar no nosso caminho para Deus. Nenhuma fala deve nos conduzir, necessariamente para um beco sem saída. Por isso, Santo Agostinho (354-430) definia o pecado de Adão e Eva como uma “Felix culpa” (feliz culpa), porque foi a causa da encarnação de Jesus. Quando pecamos, cometemos atos que são estéreis e absurdos, e que minam o significado da nossa vida. O perdão significa que pode-se contar uma história que conduza a alguma coisa, à felicidade.
Um famoso pintor japonês, Katsushita Hokusai (1760-1849), pintou sobre um vaso uma esplendida vista da montanha sagrada de seu país, o Fujiama. Depois, um dia, alguém deixou cair o vaso, que se esfacelou! Lentamente o artista colou os vários pedaços e o reconstruiu. Mas, em recordação do que tinha acontecido com o vaso, sua queda e quebra, inseriu nas junturas das peças um fio de ouro, e agora o vaso ficou muitíssimo melhor e mais belo do que ele era antes.

Timothy Radcliffe OP
Le sette parole di Gesù in Croce
Cinisello Balsamo 2006, 23-28.


[1] Trecho tirado do Breviario em língua inglesa.
[2] Citado in Eliezer Berkovits, Faith after the Holocaust, New York 1973, 26.
[3] Anthony Phillips utilizou admiravelmente as cruzes de Michael Finn para ilustras as suas meditações sobre as Sete Palavras de Jesus sobre a Cruz, no livro Entering into the Mind of God, London 2002.
[4] Poesia Anglo-saxônica, London 1982, 160.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Antes de pintar


"Tu Eterno Artista,
Luz da Luz, Fonte de Vida.
Toma meu coração e minhas mãos
e guia-os no caminho da Beleza.
Teu Rosto Misterioso,
Tuas Mãos eloqüentes,
Tua mensagem aos homens,
que os pincéis de minha vida
possam pintá-los pela tua Glória;
possa expressar neles,
o meu desejo de ti,
a amizade dos santos
que habitam tua Casa
e sem cessar te louvam.
Possa penetrar neste mundo de alegria
e abrir dele uma janela
através de minha arte,
e ao vê-la os homens se alegrem
e te busquem sem cessar,
Fonte de toda Beleza,
Causa de nossa Alegria.
Amém".

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

São José de Maruipe, Vitória ES




 Pintura feita no processo de reforma da igreja, em colaboração com a arquiteta Raquel Tonin Schneider, no bairro de Maruipe, Vitória ES, no início de fevereiro de 2012.


Cruzeiro do Sul, Vitória ES






Comunidade Santo Antônio em Cruzeiro do Sul
Pintura realizada em fins de janeiro de 2012

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Deus me criou

No retorno ao Tempo Comum da liturgia católica, Newman nos ajuda a recordar algo tão simples e essencial: nossa condição de criaturas amadas, escolhidas e à serviço! Esse homem de Deus consegue fazer-nos sentir a grandeza de nossa existência, mesmo em ordinários recipientes!

"Deus me criou para que lhe prestasse um serviço particular; confiou-me um trabalho que não foi confiado a nenhum outro. Tenho a missão, que não saberei nunca neste mundo, mas que me será revelada no outro. Não sei como, mas sou necessário aos seus fins, necessário no meu posto como um Arcanjo no seu; […] tenho uma parte nesta grande obra; sou o anel de uma corrente, um laço de parentesco entre as pessoas, Não me criou para nada. Farei o seu trabalho; serei um anjo de paz, um pregador de verdade, estando no meu lugar, sem ter a intenção, se somente observo os mandamentos e o sirvo na minha vocação.
Terei, por isso, confiança nEle. Em qualquer coisa que faça, ou onde quer que esteja, não posso jamais ser jogado fora. Se estou enfermo, a minha enfermidade pode servir a Ele; se estou na dor, minha dor pode servir a Ele. A minha enfermidade, ou perplexidade, ou dor, podem ser causas necessárias a um grande desígnio, o qual está completamente acima de nós. Ele não faz nada inutilmente; pode prolongar minha vida, pode abreviá-la; sabe aquilo que faz. Pode tirar meus amigos, pode atirar-me entre estranhos, pode fazer-me sertir desolado, pode fazer sim que o meu espírito se abata, pode manter-me sigilado o futuro, e todavia Ele sabe o que faz. […] Não te peço para ver, não te peço o saber, peço-te simplesmente estar colocado na obra". (7 de março 1848)
JOHN HENRY NEWMAN, Meditazione e preghiere, Jaca, Milano, 2002, 38-39.

sábado, 17 de setembro de 2011

Umuarama Paróquia São José






Painel central da Paróquia São José, em Umuarama. O tema central é a Merkabá, o Carro de Deus, com o Pantocrator e o tetramorfo ao redor. Terminamos o trabalho esta semana, e esperamos poder ter fotos melhores, e então adicionaremos.