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terça-feira, 8 de março de 2011
06 Cacos para um mosaico
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terça-feira, 17 de agosto de 2010
Ornamentos Armênios

Compartilho este belíssimo site de ornamentos da cultura cristã armena. Em cem folhas podemos ver o que poderia ser um velho tacuíno, ou seja, o caderno de desenhos e cores que todo mestre elaborava ao longo de seu aprendizado e vida, e que lhe serviam de "fonte de inspiração" diante dos trabalhos que fazia. Este era o elemento que servia de elo para a tradição, pois esses cadernos passavam de mestre a discípulo, eram copiados e ampliados, e isto pode explicar esta linguagem comum que encontramos na arte Antiga e Medieval, ao mesmo tempo ajuda-nos a entender a fecunda criatividade com que os mesmos desenhos eram usados por pessoas diferentes. Seguramente eles não tinham a noção, tão contemporânea, dos direitos autorais, pois o artesão se manejava dentro das águas de uma Tradição comum, da qual não se sentia proprietário, mas servidor. Ele mostrava seu gênio utilizando esses elementos da forma mais perfeita, no local concreto ou na obra em que devia trabalhar, adaptando, redimensionando, combinando, e com isso, criando algo novo, do velho tesouro. Poderemos recordar, não muito tempo atrás, que nossas avós tinham cadernos de bordados ou de costura, onde se conservavam, passados de mãe para filha, os riscos que dariam forma aos trabalhos manuais, as amostras de tricô ou crochê, as receitas de bolos e pratos familiares. No link raiz do site indicado, encontramos outros endereços sobre estes ornamentos armênios, incluídos estudos dos mesmos, e sua interessantíssima origem, relacionada, segundo seu autor, às manifestações dos primeiros homens das cavernas. Mais tradicional que isto, impossível!
Este tipo de realidade nos ajuda entender o papel do artista por milênios. Ele não era alguém "sui generis" que devia criar do nada, inventar sempre algo que não tinha ainda sido pensado... mostrar sua genialidade através de sua total originalidade. Se o gênio era verdadeiro, ele o fazia, através da combinação dos velhos elementos, e deste modo, ele entrava para a tradição e suas soluções passavam a fazer parte dos tacuínos. Esses cadernos, a maioria absoluta perdida, eram fruto da decantação e purificação de milênios de história humana! Quê grande conforto para o ser humano artista! ele não estava sozinho diante de uma parede branca, não era um deus nem um maldito, mas simplesmente um servidor.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
O teu nome é Luto, aleluia!

quarta-feira, 14 de abril de 2010
O teu nome é "Se", aleluia!

O modo como o rabino Nicodemos se dirige ao Senhor Jesus é emblemático: «Rabi, sabemos que vieste de Deus como mestre; ninguém, de fato, pode realizar estes sinais que tu realizas, se Deus não está com ele» (Jo 3,2). Nestas palavras podemos ler uma grande admiração da parte de um membro com autoridade do sinédrio em confronto com este rabino itinerante proveniente da Galiléia. Mas podemos também adivinhar como, para Nicodemos, o critério de discernimento para avaliar uma pessoa esteja ligado aos «sinais» que ele realiza muito mais que – partindo dos sinais externos – buscar compreender o sinal que ele é como pessoa. A isto o Senhor Jesus reage prontamente e, em certo aspecto, brutalmente: «Em verdade, em verdade eu ti digo, se alguém não nasce do alto, não pode ver o Reino de Deus» (3,3). Poderíamos comentar esta resposta do Senhor Jesus a Nicodemos, retomando o texto do salmo responsorial que a liturgia nos oferece: «Ri-se deles o que mora lá nos Céus, zomba deles o Senhor onipotente» (Sl 2,4). É claro que o Senhor Deus não ri de nós, mas como uma mãe que assiste os primeiros passos de seu próprio filho, sustentando-o nas suas inumeráveis quedas, vê e considera como nos custa tanto olhar a realidade desde dentro e não somente do exterior, como também a avaliar e incrementar a nossa mesma vida desde o profundo de nosso coração, e não da exterioridade dos gestos e palavras, tantas vezes maiores que nós, ao ponto de não expressar nada daquilo que verdadeiramente desejamos e do que realmente somos. Como explica Teodoro de Mopsuéstia, falando do batismo: «Quando se trata da geração natural, o seio da mãe é o lugar no qual se forma a criança, mas este se desenvolve até o termino pela potência de Deus que, desde a origem, o criou. Assim também, no evangelho, a água ocupa o lugar da mãe, mas é o Espírito a ser o Criador»[1].
Lá onde Nicodemos busca colocar-se, diante de Jesus, em uma situação de paridade e, até mesmo, com uma pitada de superioridade - «nós sabemos» (Jo 3,2) – o Senhor o chama a si mesmo e ao seu caminho pessoal de crescimento interior, que não se faz «em grupo», mas só e exclusivamente, assumindo o peso da própria solidão e da própria responsabilidade pessoal. Atingir a própria interioridade é o grande convite que o Senhor ressuscitado faz a cada um de nós, para poder, por nosso lado, viver a mesma experiência dos apóstolos e da Igreja nascente: uma abertura à profundidade de si mesmos permite-lhes serem fiéis a si mesmos e a não temer nenhuma ameaça externa. Quando somos capazes de viver à altura de nossa interioridade, então é claro que o Espírito não somente vive dentro de nós, mas nos regenera tão profundamente que a sua ação potente se torna perceptível: «Quando terminaram a oração, o lugar no qual estavam reunidos tremeu, e todos ficaram plenos do Espírito Santo, e proclamavam a Palavra de Deus com franqueza» (At 4,31).
Fra MichelDavide Semeraro OSB, Messa quotidiana – aprile, Bologna 2010, 192-194.
[1] Teodoro di Mopsuestia, Commento su Giovanni II,2.
sábado, 10 de abril de 2010
O teu nome é Ignorância, aleluia!


Fra MichelDavide Semeraro OSB, Messa quotidiana – aprile, Bologna 2010, 145-147.
O teu nome é Enquanto, aleluia!
Uma outra vez, uma mulher nos abre o caminho para nossa compreensão e imersão no mistério pascal de Cristo Senhor, e é a mesma e diversa Maria de Magdala que, no Evangelho segundo João, assume um papel particular e está como que ao lado e de frente com o discípulo amado, como tipo do que todo discípulo é chamado a se tornar e viver. O contexto da ressurreição não é aquele do « terremoto» (Mt 28,2), assim como o encontramos no Evangelho de Mateus, mas aquele do íntimo tormento de um coração transbordando de amor que não consegue mais encontrar os sinais do amor. Antes de tudo, Maria está só e não em companhia da «outra Maria» (28,1). João prefere apresentar-nos a chegada dos apóstolos em dois ao sepulcro, depois das palavras que Maria pronuncia no cenáculo trancado, enquanto deixa que a mulher chegue sozinha e sozinha se encontre – antes e depois – no jardim que hospeda a tumba do Senhor, e onde poderá reconhecê-lo como ressuscitado somente depois de ter aceitado ser chamada pelo nome e levada para alem das doces margens da morte, nas quais esta mulher – como frequentemente cada um de nós arrisca fazer – deixou-se levar em um tipo de dor de auto complacência. Deste modo é colocado no seu relato, o quarto evangelista: «Maria estava no externo, próximo ao sepulcro, e viu dois anjos em vestes brancas, sentados um à cabeceira e outro aos pés, onde tinha sido colocado o corpo de Jesus» (Jo 20,11).
Maria vê através do véu das lágrima e por isso pensa não ver senão a própria dor, que se fez «vazio» pela morte do Senhor Jesus. Mas à sua visão vem em socorro a palavra ouvida em forma de pergunta, primeiro através dos anjos e depois pela mesma voz do Senhor Jesus, que lhe propõe, primeiramente, uma pergunta e depois a chama pelo nome. A tumba se torna, desta maneira, o símbolo do coração do discípulo: nela é preciso encontrar o Senhor, mas de um modo completamente novo e bem diferente de todas aquelas que são nossas expectativas que, não raramente, tornam-se ilusões espirituais. O duplo dirigir-se e re-dirigir-se de Maria nos revela qual caminho de conversão interior é necessário fazer para que os lugares da morte se transformem em um jardim, no qual se respirem os perfumes da primavera. Com Maria, primeiro, e depois com Simão Pedro, somos chamados a aprender a arte de deixarmo-nos questionar por aquilo que atravessa a nossa vida e a leva além de tudo aquilo que ela já nos tinha oferecido. Neste contexto, a palavra que Simão Pedro dirige à multidão reunida diante do cenáculo, na manhã de Pentecostes, assume uma nota particular: «Convertei-vos e cada um de vós se faça batizar em nome de Jesus Cristo, para o perdão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo» (At 2,38). Não se trata de «fazer» (2,37), mas de aceitar viver o «enquanto» da nossa vida, como ela é, fazendo dela um lugar de contínua ressurreição, através de uma renovada e sempre mais plena relação com o Senhor Jesus, que não aceita ser prisioneiro de nenhuma tumba, e nos chama a segui-lo nos caminhos da vida, até bastante longe de nossas dores, muitas vezes tão amadas, porque nos dão seguranças. Não é Jesus o que está morto, mas é Maria a estar engalfinhada com a morte, e por isso o convite é lapidar: «Vai!» (Jo 20,17) exatamente lá onde nos encantaria escutar dizer: «Vem!».
Fra MichelDavide Semeraro OSB, Messa quotidiana – aprile, Bologna 2010, 136-138.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Adélia Pradro fala da Beleza e da Arte

segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Os marfins de Salerno

Uma exposição feita em 2007 resultou em uma série de artigos importantes sobre estas pequenas esculturas, refinadas e belíssimas, cheias de conteúdos para a arte, teologia, liturgia e a ciência da iconografia antiga. Até hoje não temos certezas sobre sua original colocação, se em um altar, um retábulo ou algum objeto sacro. Fato é que as imagens tem conexões com outros marfins, espalhados por coleções e museus do mundo. Salerno tem este acervo que forma um conjunto importantíssimo e único no seu gênero. O site criado para a exposição, ainda no ar, tem recursos para a visualização dos marfins em detalhes que seriam impossíveis em um museu, permitindo ver coisas muito interessantes.
domingo, 9 de agosto de 2009
Eucaristia e o Fogo




Fogo e Espírito no rio em que fostes batizado.
Fogo e Espírito em nosso batismo,
No pão e no cálice, fogo e Espírito Santo.
Em teu pão está oculto o Espírito que não comemos;
Em teu vinho habita o fogo que não podemos beber.
O Espírito em teu pão, o fogo em teu vinho,
Maravilha singular que nossos lábios receberam.
(S. Efrém, Hino de Fide, VI, 17; X, 8)
terça-feira, 16 de junho de 2009
O labirinto

O L A B I R I N T O
O desenho é reprodução de um Labirinto que está na base do campanário, na entrada da catedral de Lucca, Toscana, Itália, feito provavelmente antes do séc. XI.
Dois elementos fundamentais, cujas explicações não podemos fornecer aqui, mas que deixamos como pressuposto: o círculo representa Deus, a divindade, a perfeição, a realidade eterna, o Céu. O quadrado, seu oposto, representa o mundo, a realidade terrestre, o imperfeito, o limitado, o humano.
Ao lado do desenho original esculpido na pedra, está escrito que esse é o labirinto do rei Minos, da Ilha de Creta, onde entrou e venceu Teseu. Mas, qual seria a finalidade de um elemento pagão em uma igreja cristã? Os cristãos sabiam interpretar os símbolos profundos, vendo-os como figura do grande e único Mistério: a Encarnação Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. Sabemos como era e é importante no cristianismo o elemento da peregrinação, o dirigir-se para o lugar sagrado, e entre tantos que haviam, um sempre foi insuperável: o Santo Sepulcro de Jerusalém. Mas nem todos podiam fazer essa viagem tão longa e perigosa, e foi por isso também que começaram a aparecer os labirintos nas entradas das igrejas, como uma miniatura da peregrinação a Jerusalém, naquilo que ela tinha de conteúdo mais essencial: o integrar todo o corpo num itinerário, na direção do Senhor e ao mesmo tempo em companhia dEle. Estamos, pois, diante do símbolo do itinerário espiritual, do caminho para Deus, e por isso mesmo, um caminho místico. Não é retilíneo, mas torto, e isso já nos dá grandíssima alegria, porque é como nós... Mas as curvas nada mais são que movimentos dentro do círculo, logo, divinos! O homem, nas suas muitas voltas, não faz outro que rodear o próprio Deus! Logo de entrada, depois de umas poucas voltas se encontra muito perto do centro, como é comum acontecer aos principiantes na vida espiritual, tendo muitas “consolações” e um sentimento da proximidade de Deus, mas ainda falta muito caminho. Neste labirinto, a proximidade física não corresponde àquela do processo. Ao final, quando falta pouco para chegar ao centro, o viajante dará as voltas mais distantes do centro, e não obstante, no processo estará mais perto. A riqueza do símbolo é justamente de unir longe e perto numa mesma experiência. O que importa mesmo é que se esteja dentro, fazendo as voltas, pois “é em Deus que nos movemos e somos”.
Neste caminho de vida o importante é não retroceder nem parar, já que ele vai como uma “pista única”, rumo ao centro. Cada pessoa o faz segundo sua velocidade, estilo e ritmo. Agora, não é simplesmente caminhar, já que tem reviravoltas bruscas, que revertem a direção mesma da rota. As pequenas e fortes curvas, que parecem nos mandar de volta, que nos dão a impressão de retroceder, formam uma cruz que abraça todo o labirinto, ainda que não a percebamos à primeira vista. Seria como uma grande cruz no centro do mundo e de Deus, unindo essas duas realidades, mostrando como Deus entra no mundo, e ao mesmo tempo, o caminho do homem, do mundo até Deus. Será sempre a cruz a mudar nossos rumos, mas de maneira transfigurante, já que faz parte da dinâmica divina (redondo). “Quanto a mim, Deus me livre de gloriar-me, a não ser na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo , pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.”[1]
Enfim, muitas outras coisas podem ser descobertas dentro deste antigo e rico símbolo que se revela, pouco a pouco ao olhar atento. Olhá-lo com calma pode ser de ajuda para treinar o olhar interior na contemplação da natureza e sobretudo dos finos dedos da Mão de Deus na História. Um momento de parada na vida, uma celebração viva da liturgia pode ser este “ver o labirinto de cima”, intuir-lhe o sentido, alegrar-se com sua beleza, retomar as forças para continuar caminhando. “Não que eu já tenha alcançado o prêmio, ou que já seja perfeito, mas prossigo a minha carreira para ver se de algum modo o poderei alcançar, visto que fui apreendido por Jesus Cristo. Irmãos, não penso havê-lo já alcançado, mas uma coisa eu faço: esquecendo-me do que ficou para trás e avançando para o que está adiante, prossigo em direção do alvo para obter o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.[2]