sábado, 16 de fevereiro de 2013

04 A conversão nasce da esperança

Ícone de Philip Davydov
«A fé que abre ao futuro» é, antes de tudo, uma fé que torna possível a conversão. E a conversão é a prática da esperança vital. Quem não tem esperança, quem não vê diante de si um futuro, não pode converter-se. Antigamente ao invés de se falar em conversão, utilizava-se o termo «penitência». Mas, na nossa língua, este termo tem um sabor de punição: quem faz penitência se pune até que não tenha remediado os erros do passado. Para a Bíblia, ao contrário, penitência é conversão, e conversão é conversão ao futuro: conversão ao Deus vivo e, por isso mesmo, renúncia à morte e a todas as potências que destroem a vida. A esperança no futuro é possível somente quando se reconhece, honestamente, o passado, aceitando-o sem auto-justificar-se. Sem dúvida, cada renúncia, mesmo aquela aos caminhos que levam à morte, é dolorosa, porque siginifica despedir-se de hábitos , que se tornaram inveterados, que são familiares. Mas a alegria pelo futuro da vida é incomparavelmente maior. Conversão é alegria de Deus e dos homens, como nos testemunha o evangelho de Lucas (cf. Lc 15, 10). Com o movimento da conversão, a esperança retorna à vida. Somente através da conversão nós podemos estar certos acerca do futuro.
A conversão envolve a nossa vida inteira, não lhe basta uma mudança no modo de sentir, mas exige uma nova prática de vida. Não são suficientes as boas intenções. Tudo o que vem inserido no movimento de conversão, torna-se pleno de esperança. Tudo o que fica de fora, permanece morto e privado de sentido. Por isso existe também uma conversão política e econômica ao futuro. Quem, no movimento da conversão, quer parar na metade do caminho e a compreende de uma maneira puramente interior, religiosa ou espiritual, bloqueia o seu futuro e destrói a sua esperança. (...)
Quem esperimenta angústia pelo futuro não pode converter-se, ainda que o queira. Quem crê em um fim catastrófico do mundo, não se converterá, porque não haveria nenhum senso. Quem, diante de si, não vê nenhum futuro, continua a andar para frente, como sempre, até que cairá para trás, no buraco que ele mesmo cavou para si. Para converter-se, é necessário ter a força de uma esperança que transforma a vida e vence o mundo. Mas nós descobrimos a força de uma semelhante esperança somente quando encontramos e reconhecemos claramente o fundamento desta mesma esperança. Aqui, não pretendo referir-me às argumentações que, pesadas e repesadas, nos ofereceriam a esperança. Entendo aqui a fonte vital da qual esta força promana, e a fonte vital da esperança está em um fututro, do qual nos vem continuamente um novo tempo, uma nova possibilidade e uma nova liberdade. É o futuro que encontramos em Jesus Cristo. É Ele o nosso futuro, é Ele a nossa esperança. Na conversão, que a fé torna possível, nós encontramos Ele, o nosso futuro e a nossa esperança.

J. Moltmann, Esperienze di Dio, 38-39. 43-44.

Nenhum comentário: