sábado, 23 de fevereiro de 2013

11 Conhecer o próprio pecado para conhecer Deus

Três tentações de Cristo, mosaicos do séc. XIII, São Marcos, Veneza, Itália.

«Quem conhece os próprios pecados é maior de quem, com a oração, ressuscita os mortos... quem chora uma hora sobre si mesmo é maior do que aquele que ensina e prega às multidões. Quem conhece a prórpia fraqueza é maior do que aquele que vê os anjos... quem segue Cristo na solidão e na contrição é maior do que aquele que é famoso às multidões nas igrejas». Com este paradoxo, Isaac, o Sírio afirma o caráter especificamente cristão da conversão[1]. O arrependimento cristão não deve se reduzido nem comparado a nenhuma experiência das religiões naturais. Toda tenttativa de comparação comporta, inevitavelmente, o risco de cair no ridículo ou no de precipitar-se no desequilíbrio.

A conversão é fruto do Espírito Santo e é um dos sinais menos contestáveis da sua ação na alma.

Ninguém, com efeito, pode reconhecer o próprio pecado sem ter, contemporaneamente, reconhecido Deus. Não antes, nem depois, mas no mesmo instante, em uma mesma e única intuição espiritual. De tal modo, o pecado, no momento mesmo no qual Deus o perdoa, e no qual vem, por assim dizer, recuperado e restituido na graça, torna-se, inesperadamente o lugar no qual Deus se torna ao coração do homem.

Mas, é necessário acrescentar, também, que não existe outra estrada para encontrar verdadeiramente a Deus e conhecê-lo, fora deste caminho da conversão. Fora dela, Deus não é outra coisa que uma palavra, um conceito analógico, um pressentimento, um desejo, o Deus dos filósofos e dos poetas, mas não é ainda o Deus que se revela na superabundância do seu amor.

O Senhor, de fato, veio para os pecadores, para hospedar-se e comer na casa deles, não na casa dos justos, para buscar o que estava perdido (cf. Mt 9, 13; 18, 11).

Deus se faz conhecer, perdoando. Quanto ao pecador, somente medindo o abismo do próprio pecado descobre o abismo da misericórdia. É neste exato momento que um abismo cumula e submerge o outro.

Este momento constitui a experiência evangélica absolutamente primária e fundamental, aquela dos pequenos e dos pobres em espírito, aquela dos pecadores sobretudo, prostitutas e publicanos, que precedem os outros no Reino dos céus (cf. Mt 21, 31). É neles, e naqueles que são como eles, que Deus decidiu encontrar e salvar o homem.
A. Louf, Repentir et expérience de Dieu, 28-29.




[1] Discurso 34

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