terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

13 Jesus, pobre por excelência

Crucificado, pintura sobre madeira, séc. XIII, que conversava com Santa Catarina de Sena.
Jesus, pregado na cruz, é o pobre por excelência: pobre de coração, pela comunhão intensa com a vontade do Pai e com o destino de seus irmãos, pobre também pelo despojamento a que foi conduzido na sua incarnação na carne do pecado.

É da união destas duas pobrezas que brota a salvação e que nasce a ressurreição, que salva e enriquece, com toda a Glória de Deus, a humanidade redimida. O texto de Filipenses diz: «por isso Deus o exaltou» (Fp 2, 9). A expressão «por isso» traz em si toda a revelação cristã do mistério da pobreza salvífica. A ressurreição não é somente um episódio que vem depois daquele da cruz: um brota do outro, a ressurreição é fruto da cruz. Porque voluntariamente, na sua «pobreza de coração», o Cristo se empobreceu até esta última indigência, que é a cruz, o Pai o exalta e o faz Senhor. João usa a imagem: «se o grão de trigo não cai por terra e não morre, permanece sozinho, mas se morre, produz muito fruto» (Jo 12, 24). A espiga de trigo vem da putrefação do grão; o «senhorio» de Jesus vem da sua pobreza; a salvação do homem, ligada a este senhorio, vem da kênose[1] de Cristo; o Senhor Jesus vem de Jesus pobre; o Kyrios[2] vem do servo de JHWH[3]. Eis a extrema loucura do poder do ágape do Pai: a pobreza do pecado, assumida com «pobreza de coração» se torna salvação e riqueza do homem. A salvação se realiza inteiramente no universo da pobreza. A salvação é obra de um pobre que vive a sua pobreza, de um modo tal, a libertar, através dela, os seus irmãos das raízes de sua mais oprimente miséria. A pobreza pertence, pois, essencialmente à salvação e ao evangelho. Ela é evangélica no sentido mais forte do termo. Porque é nela e por ela, que se vive o mistério que constitui o coração da boa nova. Jesus nos salva no seu sacrifício de servo que sofre, de servo pobre; «por suas chagas fomos curados» segundo a expressão de Isaías (53, 5), que a primeira carta de Pedro retoma (1Pd 2, 24). A sua ressurreição é a revelação da extraordinária fecundidade da pobreza. O Senhor Jesus não é nenhum outro senão o pobre Jesus, exaltado porque viveu até as últimas consequências, e no amor, a sua pobreza. Desta exaltação, os homens todos devem ser os beneficiários: não somente os oprimidos e famintos, mas também os ricos, na condição que saibam descobrir, em si, a presença radical da miséria, aquela do pecado, e que queiram se libertar dela, radicando no seu coração uma disponibilidade que lhes abra a Deus e aos outros. Eis a suprema generosidade do pobre: através de seu amor, foram salvos aqueles que o maltratavam. Se, antes, nós podíamos dizer que Deus via, no rosto do pobre, a sua própria dor, agora devemos acrescentar que ele encontra no coração de Jesus pobre, o seu próprio amor e sua própria generosidade.

H.J.-M. Tillard, La salvezza mistero di povertà, 27-29.



[1] Esvaziamento voluntário de Deus, em grego.
[2] Senhor, em grego.
[3] Nome impronunciável de Deus, escrito somente com consoantes, para evitar a profanação do Nome.

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