sexta-feira, 17 de maio de 2013

TP 07 5 O Espírito falou por meio dos profetas

Batistério de Albenga, Ligúria, Itália Belíssima imagem da Santíssima Trindade, Séc. VI.
Dizer que o Espírito falou por meio dos profetas significa recordar a sua ação potente, incansável, no decorrer da história da Salvação, a partir da criação do mundo até a obra de Cristo, passando pelas «preparações evangélicas» do primeiro Testamento. O Espírito, em uma verdadeira «Pentecostes cósmica», como dizia Sergej Bulgakov, esvoaça sobre as águas primordiais (cf. Gn 1,2). Deus «sopra nas narinas» do homem um «sopro de vida» (cf. Gn 2,7) que a Bíblia grega identifica com o Espírito Santo, e de quem os Padres dizem ser Ele a fazer do homem «a imagem de Deus». No Antigo Testamento, através de toda uma pedagogia divina de desilusões e superamentos, a revelação do Espírito Santo não cessa de interiorizar-se e universalizar-se. Com os grandes textos proféticos do exílio, o Espírito Santo aparece como potência de ressurreição – vivifica ossos ressequidos (Ez 37,1-14) – e de transformação dos corações, que tem a função de passar da Lei à espontaneidade do amor. O Espírito é a grande unção messiânica e Jesus, quando inaugura a pregação, retoma o anúncio de Isaías: «O Espírito do Senhor está sobre mim» (Lc 4,18; Is 61,1).

A encarnação é obra do Espírito, a cristologia de Lucas e de João é fundamentalmente pneumatológica: o Espírito é, de fato, a unção de Jesus, no qual permanece de tal modo, que a existência de Jesus aparece como uma existência no Espírito. Cristo torna a humanidade capaz de tornar-se «pneumatófora»: a sua vitória sobre a morte e sobre o inferno e sua glorificação uniram, para sempre, a divindade e a humanidade, e neste espaço, de agora em diante sem obstáculos, permitiram a inauguração de Pentecostes. A Igreja agora oferece aos homens a potência da ressurreição, que se identifica com aquela do Espírito. A Igreja, agora, é inteiramente profética. No dia de Pentecostes, Pedro anuncia o cumprimento da profecia de Joel: «Nos últimos dias, diz o Senhor, eu efundirei o meu Espírito sobre toda carne... Sobre meus servos sobre minhas servas, naquele dia, efundirei o meu Espírito e eles serão profetas» (At 2,17-18). Parece, no entanto, que a Igreja, em algum momento da história que seria difícil precisar, tenha começado a ter medo do Espírito, e se tenha fechado, no temor da vida e da liberdade pessoal, em um moralismo mais ritualístico no Oriente, e mais jurídico, no Ocidente. Na periferia da Igreja, e algumas vezes, contra ela, são sopradas, então, baforadas do Espírito, em uma imensa exigência de vida criativa, de comunhão e de beleza.

O. Clément, Je crois en l’Esprit Saint, 43-45.

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