terça-feira, 7 de maio de 2013

TP 06 3 O teu nome é Meia noite!

Starry night, Van Gogh, Museu de Arte Moderna, Nova York, EUA 1889 
Na tradição, não somente naquela bíblica, o tempo mais propício para as passagens e manifestações divinas parece ser o coração da noite. Não por acaso que cada ano, ainda hoje, celebremos as duas festas principais do ano em vigília e oração, ao ponto de iluminar as trevas mais espessas com a oração e o amor. Na primeira leitura nos é relatado uma das desventuras de Paulo e Silas, que se conclui de modo muito preciso: «Atirou-os na parte mais interna do cárcere e prendeu-lhes os pés aos cepos» (At 16,24). Parece que agora não haja mais nada a fazer, como também parece que a resistência ao anúncio do evangelho tenha vencido e que o próprio evangelho esteja preso, de uma vez por todas, como e com os pés dos apóstolos: apertados com correntes. Mesmo assim, existe alguma coisa que é mais forte que os cepos e correntes, e é a fé de quem não deixa de crer e esperar, mesmo na parte mais interna e mais obscura da prisão, demonstrando, assim, ter um coração tão livre que não pode ser acorrentado por nada nem ninguém: «Pela meia noite, Paulo e Silas, em oração, cantavam hinos a Deus, enquanto os prisioneiros estavam escutando-os» (16,25).

Preciosíssimo versículo, que remete ao dúplice mistério da oração de louvor que é possível – poderíamos dizer, até mesmo, necessária – também no momento da desolação e do anúncio do evangelho, que passa simplesmente através deste canto dos apóstolos, canto capaz de criar, na prisão, habituada muito mais a outros clamores, uma atmosfera de paz tão profunda ao ponto de desmantelar, até às vísceras da terra, todas as feiuras: «Improvisamente aconteceu um terremoto tão forte que foram sacudidos os fundamentos da prisão; súbito se abriram todas as portas e caíram as correntes de todos» (16,26). Estamos diante de uma das mais belas parábolas capazes de dizer sobre a eficácia do evangelho de Cristo. Antes de tudo a memória que Deus intervém à «meia noite» e «imprevisivelmente», e que a sua passagem – como aquela da Páscoa – é sempre uma passagem para a libertação. À memória da Páscoa, vivida pelo povo no Egito, se acrescenta um elemento que é próprio da páscoa de Cristo e que é expressa pela palavra que Paulo dirige ao carcereiro: «Não te faças mal, estamos todos aqui» (16,28). A libertação deve ser para todos e não existe mais a lógica, segundo a qual, é necessário que alguém perça para que um outro viva, como acontece no Mar Vermelho. Para a Páscoa de Cristo, existe vida para todos, até mesmo para o carcereiro, para o qual, a estranha bondade de Paulo e Silas que, com a sua oração, criam as condições para a liberdade de todos, é um verdadeiro terremoto interior que muda a sua vida desde os fundamentos: «Depois, fez-lhes subir em casa, pôs a mesa e estava pleno de alegria, junto com os seus, por ter acreditado em Deus» (16,34). À luz de tudo isto, podemos deixar decantar no nosso coração, a palavra do Senhor, que busca levar-nos um pouco mais longe: «Mas eu vos digo a verdade: é bom para vós que eu vá, porque, se não vou, não virá para vós o Paráclito; se ao contrário, vou, eu o mandarei a vós» (Jo 16,7). Um verdadeiro terremoto, que preludia a uma nova meia noite!

Semeraro, M., Messa Quotidiana, Bologna, maggio 2013, 77-79.

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