sexta-feira, 17 de maio de 2013

TP 07 6 O Espírito é a novidade que age no mundo

Nos últimos tempos, que são os nossos, a potência escondida da ressurreição é o evento da novidade. Deveríamos reler os textos de S. Paulo relativos a esta energia[1] da ressurreição, que finalmente se difunde no mundo através do evangelho. Isto significa, para nós, que em cada evento o Verbo Incarnado, mundo novo, vem ao nosso mundo de morte. Ele entra na morte. Jesus realmente morreu; mas esta invasão do Deus Vivente faz despedaçar as múltiplas correntes que prendiam o homem na escravidão, correntes que são o demônio, o pecado, a morte, a lei, a carne, no senso paulino do termo. A cruz foi a hora da novidade: o eschaton[2], o século futuro, entrou em nosso tempo e fez explodir todas as nossas tumbas. Esta morte é a nossa ressurreição. «Eis que com a cruz a alegria invadiu o mundo inteiro» (Ofício pascal bizantino, sexta ode). Para nós, hoje, a coisa mais urgente é, talvez, redescobrir «qual é a extraordinária grandeza da sua potência sobre nós, os crentes, segundo a eficácia da sua força, que ele manifestou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos» (Ef 1,19-20).

A ressurreição é a inauguração da parusia[3] no nosso tempo, e é por isso que nós podemos esperar, com certeza e impaciência, o cumprimento anunciado por aquele que está sentado no trono (Ap 21,5). Por isso nós «esperamos ardentemente como salvador o Senhor Jesus Cristo, que transfigurará o nosso corpo de miséria, para conforma-lo ao seu corpo de glória, em virtude da energia que ele há de submeter a si todas as coisas» (Fl 3,20-21).

Como nosso «hoje» pode se tornar o evento pascal, que aconteceu de uma vez para sempre? É graças a aquele que desde a origem e na plenitude dos tempos é o artífice: o Espírito Santo.

Ele é a novidade que opera no mundo, a presença do Deus-conosco, «unido ao nosso espírito» (Rm 8,16); sem ele, Deus está longe, o Cristo permanece no passado, o evangelho é letra morta, a igreja uma simples organização, a autoridade um domínio, a missão uma propaganda, o culto uma simples evocação e o agir cristão uma moral de escravos.

Mas nele, em uma sinergia[4] indissociável, o cosmos é fecundado e geme no trabalho de parto na geração do Reino, o homem está em luta contra a carne, o Cristo ressuscitado está presente, o evangelho torna-se potência de vida, a Igreja significa comunhão trinitária, a autoridade torna-se um serviço libertador, a missão é uma Pentecostes, a liturgia, um memorial e uma antecipação, o agir humano é divinizado.

O Espírito Santo faz vir a parusia em uma epíclese[5] sacramental e misticamente realista, dá vida aos profetas e fala através deles, recoloca cada coisa em diálogo, e na efusão de si mesmo, cria comunhão e impulsiona para o segundo Advento. «Ele é Senhor e dá a vida» (Símbolo Niceno-Constantinopolitano). É graças a Ele que a Igreja e o mundo invocam com todo o ser: «Vem, Senhor Jesus!» (Ap 22,20).

Inácio IV Hazim, Evento e rinnovamento, 256-258.




[1] Energia, segundo a terminologia teológica do primeiro milênio, quer dizer tudo aquilo que podemos conhecer de Deus, como emanações diretas dele.


[2] Literalmente, os últimos tempos, o final da história humana, o seu cumprimento e desfecho.


[3] Parusia é a segunda vinda de Cristo, no final dos tempos.


[4] Sinergia é a comunicação da energia divina na criação.


[5] Epíclese é o gesto que invoca a descida do Espírito Santo sobre as oferendas na missa, para que se tornem o Corpo e Sangue de Cristo, ou no caso dos outros sacramentos, para que Ele realize aquilo que o sacramento significa.

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