quarta-feira, 13 de março de 2013

29 Sozinho com Deus

Santo eremita em oração, Vitral de D. Beda Fernandes OSB
Entramos na solidão, antes de tudo, para encontrar o Senhor e estar com Ele e somente com Ele. Nossa tarefa primária na solidão não é estarmos atentos aos muitos vultos que nos assaltam, mas de termos os olhos da nossa mente e do nosso coração fixos sobre Ele que é nosso Salvador. Somente no contexto da graça podemos contrastar os nossos pecados, somente no lugar da cura podemos ter coragem de mostrar nossas feridas, somente com nossa atenção dirigida unicamente a Cristo podemos desembaraçar-nos dos medos que se agarraram a nós e contemplar nossa verdadeira natureza. Na medida que chegamos a compreender que não somos nós que vivemos, mas Cristo que vive em nós, que Ele é o nosso verdadeiro eu, podemos gradualmente eliminar as coerções das quais somos vítimas e começar a experimentar a liberdade de filhos de Deus. Podemos então olhar para trás com um sorriso e dar-nos conta de que não somos mais dominados pela ira ou pela cupidez.

Que isto significa para os na nossa vida cotidiana? Ainda que não sejamos chamados à vida monástica ou não tenhamos a constituição física para sobreviver aos rigores do deserto, somos, mesmo assim, responsáveis pela nossa solidão. Precisamente porque o nosso ambiente secular nos oferece tão poucas realidades espirituais, devemos nós desenvolver a nossa, modelando nosso deserto pessoal, no qual possamos nos retirar cada dia, sacudindo de cima de nós as coerções do mundo, e estando na presença amorosa e salutar do Senhor. Sem este deserto, terminaremos por perder a nossa alma, mesmo continuando a pregar o evangelho aos outros. Com uma tal morada espiritual, nos tornaremos, ao contrário, sempre mais conformes a Ele.

Em conclusão, a solidão é o lugar da purificação e da transformação, da luta e do grande encontro. A solidão não é somente um meio em vista de um fim. É o lugar onde Cristo nos remodela a sua imagem e nos liberta das enganosas coerções do mundo. Em resumo, é o lugar da nossa salvação: portanto é o lugar onde queremos conduzir todos aqueles que estão buscando a luz neste mundo obscuro.

H.J.-M. Nouwen, Silenzio, solitudine, preghiera, 32-34.

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