quarta-feira, 27 de março de 2013

42 O Filho do Homem se vai, como está escrito sobre ele

anônimo séc. XII
«Enquanto estavam à mesa e comiam, Jesus disse a eles: “em verdade vos digo, um de vós, aquele que come comigo, me trairá”» (Mc 14, 18). Um dos doze..., dos comensais..., o amigo! Assim, em Jesus não se cumpre somente a palavra profética do Servo de Deus, mas também a palavra do Salmista: «até o amigo, em quem confiava, que comia do meu pão, alçou contra mim o calcanhar» (Sl 41, 10; Jo 13, 18). No destino de Jesus se cumpre também o destino do homem justo dos salmos.

Jesus se vê abandonado no círculo dos seus doze. Um o entregará, um comensal o trairá. Será uma morte produzida pela infidelidade e traição, uma morte amarga, solitária. Mas também a ela, Jesus dá a sua aprovação. O discurso de Jesus tem, antes de tudo, um efeito especial no círculo dos doze: «então, começaram a entristecer-se e a dizer, um depois do outro: “serei, talvez, eu?” (Mc 14, 19). Os seus discípulos se sentem tocados pelo seu discurso. Também esta palavra é uma palavra irrevogável para eles, eles a levam a sério. Não a rejeitam, indignados, não a evitam, mas deixam-se examinar por ela. Aceitam-na: «começaram a entristecer-se». E depois, nem mesmo olham ao outro, mas, um depois do outro, pergunta: «serei, talvez, eu?». Não estão nada seguros de sua fidelidade pessoal. Cada um acredita ser possível, em si mesmo, uma traição a Jesus. No momento, não estão conscientes de nenhuma culpa. Todavia, não consideram exclusa a possibilidade de cair em uma semelhante terrível culpa. Eles nunca compreenderam verdadeiramente Jesus, opuseram-se, como todos, ao seu caminho na direção da Paixão, a oposição deles tornou-se tanto mais forte quanto mais estavam perto de Jerusalém, e mais urgente se fazia o seu anúncio; até mesmo, ao final, diante da cruz, abandonaram-no, depois que Pedro, que já o tinha declarado Messias, recusou-se a reconhecê-lo. Não é por casualidade que lhes veio este único sentimento: eles não estão mais seguros de si mesmos, e não acusam, imediatamente a um outro, mas perguntam a Jesus: «Mestre, serei eu?». A palavra de Jesus tem muito valor para eles, ainda, e os atinge.

Jesus não responde à sua pergunta, não diz quem é o traidor, não retira aos discípulos a sua salutar e humilhante ignorância. Antes de tudo, repete somente a sua palavra profética, colocando-a, com isso, ainda mais fortemente, na moldura de um banquete: «E ele lhes disse: “um dos doze, aquele que comigo, põe a mão no prato”» (Mc 14, 20). (...) Jesus não se detém sobre aquele que lhe causará um do estreito grupo dos discípulos, olha o seu caminho, querido por Deus, e ao juízo que incumbe ao seu traidor: « O filho do homem se vai, conforme diz a Escritura a respeito dele»(MC 14, 21). Ele cumpre a vontade de Deus, assim como ela está contida da Escritura do Antigo Testamento. Somente por este motivo, alguém consegue «trair» Jesus. Em grego, a palavra que é traduzida com «se vai» não tem o significado de «morrer». Marcos e Mateus a utilizam, por este motivo, somente aqui. Em João, pois, ela adquire uma grande importância. Esprime a necessidade e a liberdade do caminho de Jesus na direção da cruz, a irrevocabilidade que Jesus assume na vontade do Pai. Este caminho deve se percorrido, e Jesus o percorre.

R Schlier, La passione secondo Marco, 32-34.

Um comentário:

donaleo disse...

E também eu pergunto; serei eu, Senhor? Porque a minha fé é pequena, e eu sou frágil...Também no abandono do Senhor, na sua Paixão, e na negação de Cristo, aí não residem traições? Diante do amor do Pai pelos seus filhos, Amor pleno, eu indago sobre o tamanho do meu amor em Cristo e nos meus irmãos! Senhor, fortalece o meu Amor e a minha Fé!