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S. José, Ivan Polverari, Itália |
Mas existe um outro silêncio: aquele que brota de uma plenitude que existe em nós. Santo Isaac, o sírio, escrevia: «esforça-te, antes de tudo, por calar-te. Disto nascerá em nós o que nos conduzirá ao silêncio. Que Deus te conceda, então, de sentir o que nasce do silêncio. Se fazes assim, levantar-se-á em ti uma luz que não sei explicar. (...) Da ascese do silêncio nasce, no coração, com o tempo, um prazer que impele o corpo a permanecer pacientemente na paz. E vêm as lágrima abundantes, primeiro no sofrimento, depois no êxtase. O coração então sente o que discerne no profundo da contemplação maravilhosa».
Este silêncio é já oração, segundo o mesmo autor, «a linguagem dos séculos vindouros». Ele testemunha a plenitude da vida de Deus em nós, plenitude que deve renunciar a toda palavra humana para exprimi-la de maneira adequada. Por um certo tempo, somente as palavras da Bíblia conseguem ainda a expressá-la um pouco, mas depois chega o momento, no qual somente o silêncio pode dar conta da extraordinária riqueza que nos foi dado descobrir no nosso coração. É um silêncio que se impõe com doçura e com força, ao mesmo tempo, mas vem do interior. A oração se torna a lei, por ela mesma. Ela faz compreender quando é necessário calar e quando é necessário falar. É puríssimo louvor, e ao mesmo tempo, irradiação. Um silêncio assim não fere jamais a ninguém. Estabelece, ao seu redor, uma zona de paz e quietude, na qual Deus é percebido como presente, de maneira irresistível. «Conserva o teu coração na paz», dizia Serafim de Sarov, «e uma multidão, ao teu redor, se salvará».
A. Louf, La voie cistercienne, 97-98.
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