segunda-feira, 25 de março de 2013

40 Uma obra boa para o pobre

Unção com o perfume caríssimo em Betânia, miniatura do Monte Athos, séc. XI.
«Então, Jesus disse: “deixai-a; porque incomodá-la? Ela cumpriu uma boa obra para mim!”» (Mc 14, 6). A unção que a mulher fez em Betânia, com todo o seu «desperdício», é, pois uma «boa obra». (...)

Mas também o amor generoso por Jesus, como demonstrou a mulher, é uma boa obra deste gênero. De fato, o verdadeiro amor pelos pobres pressupõe o amor por Jesus, por aquele Jesus que, por nós, se apressa no caminho da morte, por aqule Jeus que veio «dar a própria vida em resgate por muitos» (Mc 14, 45).

«Os pobres, de fato», diz Jesus, «os tereis sempre convosco, e podeis fazer-lhes o bem quando o quiserdes, mas a mim, não me tereis sempre». Por isso, a compreensão do que fez a mulher e do que foi dito: «Ela fez o que estava em seu poder, ungindo, em antecipação, meu corpo para a sepultura» (Mc 14, 7-8). Ajudar os pobres e amar a Jesus e fazer-lhe este último favor, coisa que a mulher não sabia, mas agora vem a saber de Jesus, não são uma contradição e não se excluem. «Podeis fazer-lhes o bem quando o quiserdes». A veneração, o amor, o amor generoso por Jesus, não impedem, de fato, ajudar os pobres. «Necessitados não faltarão nunca no país», já se diz no Dt 15,11. Existe sempre a ocasião para fazer isto, seja que eles habitem perto ou longe. E cada um deve aproveitar a ocasião. Lázaro está sempre diante da porta, mas não podemos contrapor esta ajuda à veneração de Jesus e ao amor por ele.

Ele não só possui o seu direito, mas é ordenado. A nós, contrariamente a tudo o que se possa dizer, é ordenado também de nos dirigirmos a Ele, de ter confiança nEle, de honrar o seu Nome, de esperar nEle, de rezar a Ele, de deixar-nos exortar, consolar e julgar por Ele, e de lhe demonstrar o nosso amor, com todas as nossas forças. Este amor por Jesus precede, em certo sentido, aquele outro amor pelos pobres. É a fonte e o fundamento do amor pelos pobres; este brota daquele. O amor pelos pobres, se é amor verdadeiro, é o fruto do amor por Jesus. Quem é Jesus? A mulher que fez a unção em Betânia o intuiu e por isso o ungiu: ele é aquele que abraça a morte por nós, aquele que nos carrega, no amor, até a sua morte, até no sepulcro. Também ele é um pobre. Ele é o Pobre. É pobre por nós. É aquele do qual o apóstolo disse: «de rico que era, fez-se pobre por vós, para vos enriquecerdes através da sua pobreza» (2 Cor 8, 9). Isto foi intuido pela mulher -, ou talvez, dizendo melhor: isto intuiu o amor da mulher – e percebeu que Jesus nos faz ricos como ninguém ou nada, neste mundo, poderia fazer, e por isso «fez o que estava em seu poder fazer» e versou, sobre os pés de Jesus, toda sua riqueza. Respondeu ao amor de Jesus, com um generoso sinal de amor. Assim o seu amor por Jesus ganhou o posto de um sinal profético. Para aquele que consegue ver, na unção de Jesus, ela antecipou a unção de Jesus morto por nós, unção pela qual, na manhã de páscoa, as mulheres não chegaram em tempo ao sepulcro. Ela, consciente-inconsciente, viu o seu sofrimento, a sua cruz, o seu sepulcro, o seu amor por nós, e com a sua oferta, o agradeceu. De um agradecimento semelhante daqueles que se sabem assegurados pela obra da paixão de Jesus, de um semelhante amor agradecido brota, pois, também o amor desinteressado pelos pobres, que «não faltarão nunca no país».

«Em verdade, vos digo que, em todos os lugares, em todo o mundo, onde será anunciado o evangelho, se contará também este fato, em recordação do que ela fez» (Mc 14, 9). O evangelista não disse o seu nome. Ele pode ser esquecido, e permanece recordado sempre junto de Deus. Não é o seu nome que é glorificado por Jesus, mas a sua ação é elogiada e é anunciada, no evangelho, e como evangelho, em todo o mundo, e até o fim do mundo. Ela deve recordar a nossa memória aquele que, sobre a via da paixão e de sua morte, merece um semelhante amor, e deve convidar-nos ao mesmo amor por Ele.
H. Schlier, la passione secondo Marco, 20-23

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