domingo, 21 de abril de 2013

O Bom Pastor e Batismo



Mosaico de Galla Placídia, Ravenna, Italia 425.

O salmo 22 devia ser aprendido de memória pelos que seriam batizados e cantado durante o batismo, segundo um costume atestado já no séc. III: «O Senhor é meu Pastor, nada me falta. Sobre verdes pastagens me faz repousar, para as águas tranquilas me conduz...». Era explicado aos catecúmenos que as águas tranquilas eram a fonte batismal; as verdes pastagens, as Sagradas Escrituras; no versículo 5, o perfume evocava a unção dada durante o batismo e o cálice que transborda figurava a eucaristia que os neófitos recebiam, pela primeira vez, saindo do batistério. Não surpreende, pois, que a decoração dos batistérios paleocristãos reservasse amplo espaço às imagens pastorais e sobretudo àquela do Pastor que leva a ovelha; os iconógrafos o chamam geralmente «o Bom Pastor»; encontraremos sua imagem desde a primeira metade do séc. III, em Dura Europos e, em seguida, nos batistérios de Roma, Nápoles, Milão, Ravena. Sobre a figura do bom pastor se havia enxertado um rico ensinamento doutrinal[1].

«Eis aqui o tocador de cítara que Davi designava; hoje manifestou-se, porque tocou o coração dos seus e conseguiu produzir os sons que eram necessários para se dar a conhecer a todos»[1]. O instrumento de Davi, diz Quodvultdeus, é «a cítara realizada com a madeira da cruz, com as cordas da sua carne e de seus membros; quando a toca com o plectro do Espírito Santo, cumula todo vivente de bênçãos e obtém, imediatamente, expulsar (como Davi) o diabo do coração de seus inimigos»[2]. Fílon definia o profeta «instrumento sonoro do qual Deus toca invisivelmente as cordas com seu plectro»[3]. «Alma e corpo, instrumento das mil vozes», cada homem, quando é animado pelo Espírito Santo, por Deus, é «uma cítara, uma flauta, um templo»; «uma cítara pela sua harmonia, uma flauta pelo seu sopro, um templo pela sua razão, de modo que a primeira vibra, o outro respira e aquele, hospeda o Senhor»[4].



[1] Agostinho, Sermone 265 B.
[2] Quodvultdeus, Sulle promesse 2, 25, 52.
[3] Fílon de Alexandria, Quis rerum 259.
[4] Clemente de Alexandria, Protrettico, 1, 5, 4.




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