quinta-feira, 11 de abril de 2013

TP 02 4 O teu nome é Templo, Aleluia!

A ceia do Ressuscitado - Iluminura armena, (1224 թ., Արցախ, Bibliothek der Deutschen Morgenländischen Gesellschaft, Halle, ms. Arm. 1, f° 5)
Podemos somente imaginar os sentimentos que animam o coração dos apóstolos, que se encontram misteriosamente livre e «entraram no Templo ao amanhecer, e se puseram a ensinar» (At 5,21). Quem sabe se é mais fácil imaginar, ao contrário, o desconcerto dos notáveis do povo e dos guardas que, diante do acontecido, tem um pouco de medo. O «Templo» se torna o lugar privilegiado para os apóstolos, para anunciar a ressurreição de Jesus e para ensinar o povo, não somente com palavras, mas sobretudo com o seu testemunho, que nada e ninguém pode parar a vida. Assim, o Templo retorna a ser, malgrado as intenções dos sacerdotes, um lugar no qual se anuncia a possibilidade, para todos e sempre, de um incremento de vida, de uma possível plenitude e de uma esperança reencontrada. As palavras que o Senhor Jesus dirige a Nicodemos são destinadas a todo homem e a toda mulher, em cada canto do mundo e em qualquer situação: «Deus tanto amou o mundo, que deu o Filho unigênito, para que quem nele crer não se perca, mas tenha a vida eterna» (Jo 3,16). 

O hábito «templário» é aquele de imaginar um Deus que tem tanta necessidade de sacrifícios ao ponto de exigí-los. O minucioso ritual do templo – não somente aquele de Jerusalém – coloca o homem em uma condição de perene débito para com Deus. Pode-se imaginar quanto possa turbar os sacerdotes e todos os «funcionários» de todas as ordens e graus, diante de uma reviravolta de perspectivas: Deus não é aquele que precisa sacrificar, mas é ele que sacrifica a sua imagem para revelar-nos o rosto de um Pai que ama, e que ama infinitamente e gratuitamente, não esperando que nós doemos nossas coisas mais preciosas, mas doando-nos, incondicionalmente, aquilo que é mais precioso, por excelência: «o Filho unigênito» (Jo 3,16). Para os notáveis do povo, não é fácil darem-se contas de que o Senhor Deus parece estar em profundo desacordo com as suas intenções e decisões. De fato, misteriosa, mas eficazmente, liberta os apóstolos, que ele aprisionaram.

Deus, que no Templo é como que protegido de toda contaminação com a história e com a vida, parece fazer-se quase impotente, ou de qualquer modo, parece colocar-se do lado daqueles que parecem sê-lo. Mas, é somente assim, nesta fragilidade, que o Templo pode reencontrar o seu papel de lugar onde o homem e Deus podem encontrar-se, porque Deus pode também ser rejeitado pelo homem. O que aconteceu publicamente, parece ter sido antecipado eficazmente no encontro noturno entre Nicodemos e o Senhor Jesus. A luz e a verdade de que fala o Senhor Jesus é o desejo do coração do Pai, que desde sempre e para sempre «amou tanto o mundo», este mundo, o nosso mundo. De modo que a luz da verdade e a verdade da luz provenham autenticamente de Cristo somente quando e se o mundo – aquele concreto e não aquele imaginário ligado ao condicional e hipotético – se sente mais amado. Tomar consciência disto e viver desta realidade, muda radicalmente a vida e, nenhum cárcere, estreito pelos muros de preconceitos e protegido pelas grades do privilégio, pode parar a corrida «destas palavras de vida» (At 5,20).

Semeraro, M., La messa quotidiana, Bologna, Aprile 2012, 264-266.


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