sexta-feira, 5 de abril de 2013

TP 01 6 O teu nome é Mar, aleluia!

Mosaico de Monreale, Sicilia, Itália, séc. XIII.

Máximo de Turim instaura um paralelo entre Ulisses, fustigado na sua barca, em meio ao mar, e obrigado a tapar os ouvidos, para não ser encantado e vencido pelo dulcíssimo e inexorável canto das sereias, e o Cristo Senhor: «Se a lenda conta que Ulisses fez-se amarrar ao mastro para fugir do perigo, hoje, através do lenho da cruz, a humanidade inteira escapou da morte» e acrescenta: «Desde que Cristo foi pregado na cruz, nós atravessamos as provas e as tentações do caminho deste mundo, como se nossos ouvidos estivessem tapados, para não nos deixar mais enganar pelas seduções do mundo»[1]. Talvez possamos forçar, ulteriormente, a imagem e a aproximação do bispo Máximo, dizendo que não basta fugir da atracão ilusória das sereias, resistindo ao seu chamado, mas como Simão Pedro, é necessário – uma vez que se reconhece a presença do Cristo que nos espera na margem – saber atirar-se no mar, para fazer com que, o que nos separa dele, a Ele nos leve. Estranhamente encontramos somente sete dos doze apóstolos a que estamos acostumados, e dois não tem um nome preciso... talvez o evangelista tenha criado um espaço vazio, no qual inserir serenamente o nosso próprio nome e aquele de tantos que levamos no coração? Porque não?
Enquanto levamos a termo os dias da Oitava da Páscoa, queremos fazer nosso o gesto quase instintivo de Simão Pedro, o qual, «apenas ouviu que era o Senhor, cingiu-se a veste, porque estava nu, e se jogou no mar» (Jo 21,7). Talvez também nós não tenhamos, como Simão Pedro, aquele dom de intuição e de revelação, próprios do discípulos amado, o que não nos tira que, não apenas tenhamos nos dado conta da presença do Senhor na margem do mar de nossa existência, possamos atirar ao mar todas as coisas, incluindo nós mesmos, para poder chegar até Ele e receber de suas mãos maternas o pão e o peixe, que nos nutrem e nos dão forças para retomar continuamente o caminho... para tentar outra vez a pesca, mesmo quando o mar da existência parece tão terrivelmente esvaziado de esperança. Podemos fazer mais que nossas as palavras do salmo: «Nós te pedimos, Senhor: Dai-nos a salvação! Te pedimos, Senhor: dai-nos a vitória!» (Sl 118,25).
Depois de ter rezado assim, depois de ter imitado o gesto de Pedro, que corresponde à intuição do coração amante de João, não podemos senão fazer nossa a mesma profissão de fé, sem temor e com exaltação alegre: «Este Jesus é a pedra, que foi rejeitada por vós, construtores, e que se tornou a pedra angular. Em nenhum outro se encontra a salvação; não existe, de fato, sob o céu, outro nome dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos» (At 4,11-12). Parece quase paradoxal, mas a nossa salvação está ligada à nossa capacidade de arriscar a vida, atirando-nos no mar. Não será, talvez, esta a lógica do batismo que um dia recebemos e que cada dia somos chamados a viver no mar da vida, bem mais perigoso do que pode ser uma fonte batismal? Mesmo assim, se nos sentimos esperados do outro lado, nenhum medo poderá bloquear-nos, para escutar, com o ouvido do coração, o chamado muito mais doce do que aquele das inumeráveis sereias que buscam seduzir-nos: «Filhinhos, tende alguma coisa para comer?» (Jo 21,5). A nossa resposta é: «Não!» e a resposta do Senhor é o «pão» e o «peixe» (21,13)... Ele mesmo, «é o Senhor» (21,7)... é «este Jesus» (At 4,11) , o qual sempre esteve lá enquanto nós nos fadigávamos em vão!
Fra MichelDavide Semeraro OSB, Messa quotidiana – aprile, Bologna 2010, 163-165.


[1] Massimo di Turim, Sermoni 37, 1-2.

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