quarta-feira, 17 de abril de 2013

TP 03 4 O teu nome é Descido, Aleluia!

1418-1422 - Bíblia de Mkrtich Naghash
Depois de ter se identificado com a figura do pão, o Senhor Jesus radicaliza, ainda mais, o simbolismo. Se o pão, de fato, é um fruto da terra e do trabalho do homem que nasce de baixo e vai para cima é, na realidade, o resultado de uma interação entre o céu e a terra, através da energia do sol. Isto explica, com sua costumeira capacidade metafísica e, ao mesmo tempo, prática, Simone Weil: «O trigo e a uva são energia do solar, fixada e concentrada, graças à ação mediadora da clorofila; através deles, a energia solar entra no corpo dos homens e os vivifica. A luz do sol sempre foi considerada a melhor imagem de Deus, da ação iluminante do Espírito Santo, que penetra na alma do homem. Muitos textos litúrgicos comparam Cristo ao sol. Como, de fato, Cristo se incarna na eucaristia para ser comido por nós, assim a luz do sol se cristaliza nas plantas (e por meio delas, nos animais) para ser comidas por nós. Por isso, todo nutrimento é uma imagem do sacrifício, por excelência, da encarnação, isto é, de Cristo»[1].

Por isso, o Senhor Jesus pode dizer, em toda verdade: «Eu sou o pão da vida», e ainda: «...porque desci do céu não para fazer minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou» (Jo 6,35.38). A este ponto, fica claríssima a promessa: «Quem crê em mim não terá sede jamais!» (6,35), mas torna-se mais evidente ainda que, se aceitamos reconhecer e acolher esta lógica de dom, é necessário aceitar também que ela faça Deus doador de si mesmo, e não apenas um distribuidor de benefícios. Todavia, a vida do Senhor Jesus é direcionada a devolver ao homem a confiança de poder retornar àquele paraíso de intimidade, do qual ele teve a sensação de ter sido expulso, porque maldito e não mais amado. Ao contrário, a nossa humanidade foi colocada na porta do Jardim, para que pudessem nascer, em nós, o desejo e a saudade daquela vida de comunhão com Deus, que não soubemos valorizar o suficiente e a seu tempo.

O Senhor Jesus redime e reestabelece a inocência do nosso desejo de comer, contaminado e desorientado pela sugestão autonomista da serpente, e retorna a nutrir-nos ele mesmo, dando-nos em alimento a si próprio: «Esta é, de fato, a vontade do meu Pai: que quem vê o Filho e nele crê, tenha a vida eterna» (Jo 6,40). A vida eterna não é outro que a plenitude de vida que, enraizando-se em Deus, vem dEle e a Ele nos leva, em um espaço sempre pais amplo e sempre menos asfixiante e dobrado sobre si mesmo. Entre Jesus e os seus discípulos – entre Jesus e nós – está o Pai, e é o Pai que abre o nosso coração para reconhecer e acolher o seu Filho. É o Pai que deu e continuamente doa ao mundo o seu amor, confiando-o ao pão de seu Filho, um Filho tão amado, ao ponto de ser compartilhado conosco.

O Senhor Jesus usa a linguagem da ressurreição que, nos seus dias, é aquele mais adequado para evocar a esperança, que hoje definiríamos mais compreensivelmente como «qualidade de vida». E é justamente o que nos é atestado e testemunhado na primeira leitura: a morte de Estevão, a qual, se é ocasião de «um grande luto» (At 8,2), torna-se também a ocasião para alargar o horizonte da pregação, a tal ponto que «foi uma grande alegria naquela cidade» (8,8).

Semeraro, M., Messa Quotidiana, Bologna, aprile 2013, 177-179.




[1] S. WEIL, Il cristianesimo e la vita dei campi.

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