sexta-feira, 19 de abril de 2013

TP 03 6 O teu nome é Carta, Aleluia!

Conversão de São Paulo, miniatura da Biblioteca Vaticana, sec.IX
O relato dos Atos dos Apóstolos nos entrega uma das narrações da vocação de Saulo e a sua abertura para acolher a luz de Cristo na sua vida, até tornar-se uma chama ardente para todo o mundo. Paulo torna-se testemunha da luz de Cristo, e não somente para o mundo que lhe estava ao redor, mas chegou a atingir, com seu zelo apostólico, também as mais extremas fronteiras. Este texto nos mostra Paulo que parece apertar entre suas mãos «cartas para a sinagoga de Damasco, para que o autorizem a conduzir, acorrentados, a Jerusalém, todos aqueles que tivesse encontrado, homens e mulheres, pertencentes a este Caminho» (At 9,2). O longo caminho de conversão e de iluminação de Paulo poderia ser resumido nesta passagem, que se move do apertar entre suas mãos «cartas» que semeiam morte e ódio, ao fazer de sua mesma vida uma espécie de tinteiro, com o qual escrever uma «carta de Cristo, composta» pelo seu coração e pelo seu amor: uma carta «não escrita com tinta, mas com o Espírito do Deus Vivo, não sobre tábuas de pedra, mas sobre as tábuas de carne dos vossos corações» 1Cor 3,3).

Frequentemente, na liturgia, a palavra de Paulo se faz presente, através das suas muitas cartas, escritas às primeiras comunidades cristãs. Estes textos, antes de ser um texto para ler e meditar, são a memória de uma possibilidade não somente aberta, mas que necessidade de crescer sempre mais e aprofundar-se continuamente. Este processo exige a capacidade de abrir os olhos sobre a vida dos outros, deixando cais as «escamas» (AT 9,8) das nossas pré-compreensões. Por aquilo que conhecemos através das cartas deste zeloso fariseu, torna-se claro quanto lhe custou caro este caminho de identificação com Cristo, e mesmo assim, ele o percorreu, aceitando dar à sua existência uma nova orientação e uma nova luz. A palavra, com que o Senhor Jesus busca reagir à lógica estreita do modo de raciocinar e discutir dos judeus, nos faz compreender que coisa deve ter acontecido secretamente no coração de Paulo: «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim e eu nele. Como o Pai, que tem a vida, me mandou e eu vivo pelo Pai, assim também, aquele que come a minha carne, viverá por mim» (Jo 6,56-57).

Uma das palavras que podem resumir o caminho espiritual e apostólico de Paulo seria aquela dirigida, com uma certa força: «Estou crucificado com Cristo e não sou eu quem vivo, mas Cristo que vive em mim» (Gl 2,19-20). No coração de Paulo está como que escrita, em caracteres de fogo, uma carta que ele relê continuamente no seu íntimo, na esperança que possa tornar-se um documento de referimento para a conversão e o crescimento interior: «E esta vida, que eu vivo no corpo, eu a vivo na Fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim», e acrescenta, talvez mais para falar a nós, que não de si mesmo, «Pois a Graça de Deus não foi vã em mim; de fato, se a justificação vem da Lei, Cristo morreu em vão» (Gl 2,21). Estas palavras veementes de Paulo nos ajudam a acolher, de modo adequado, a «carta» que nós mesmos somos chamados, não somente a ler, mas também a saborear cada dia, na nossa vida de fiéis: «Quem come deste pão viverá eternamente» (Jo 6,58).

Semeraro, M., Messa Quotidiana, Bologna, aprile 2013, 197-199.

Nenhum comentário: