sexta-feira, 12 de abril de 2013

TP 02 6 O teu nome é Pretensão, Aleluia!

S. Apollinare Nuovo (VI secolo) a Ravenna
Não podemos não compartilhar o embaraço dos discípulos diante daquela «grande multidão» (Jo 6,5) que tem necessidade de ser saciada e, mais ainda, tem uma extrema necessidade de ser acolhida e reconhecida nas suas carências, com dignidade e sem desprezo. A reação de Filipe é, frequentemente, a nossa, seja como simples fiéis, seja como Igreja chamada a se fazer sacramento, não somente real, mas também sensível, da Salvação que vem de Deus: «Duzentos denários de pão não seriam suficientes nem mesmo para que cada um receba um pedaço» (6,7). Sem dar-se contas e, muito provavelmente, sem mesmo querer, Filipe já caiu na armadilha das organizações que planificam, contam, transformam em estatísticas, para depois, necessariamente, dar um passo atrás diante do envolvimento que as realidades humanas, no seu concreto e na sua unicidade, exigem. A resposta de Jesus é completamente diversa e é magnificamente eucarística: «Fazei-os sentar» (6,10).  
 Tabgha, Palestina. V séc.
É como se alguém batesse à porta de casa e, temendo que nos perturbe, ao invés de perguntar o que deseja, a nossa primeira reação fosse aquela de dizer: «Entre e fique à vontade!». O resto se resolverá depois, e não está excluído que não se possa fazer nada por aquele que bateu à porta, ou muito pouco... mas abrindo-lhe a porta, fazendo-o atravessar, amigavelmente, o limiar da casa e introduzindo-o na intimidade de nossa vida, teremos feito o passo essencial, que é aquele de fazer sentir ao outro que ele não nos perturba, ao contrário, é bem vindo. Percebe-se, na resposta do Senhor Jesus, uma paz imensa que é capaz da aplacar as angústias de todos: daqueles que tem fome e de quantos que, como os apóstolos, temem dever envolver-se em uma história que é, claramente, muito maior do que eles. Enquanto os discípulos, diante do sucesso pastoral de seu mestre, arriscam começar a raciocinar e, mais ainda, a sentir em termos organizativos, o Senhor Jesus mantém e nutre aquele espírito de família e de humaníssima proximidade, na qual é impossível contar e calcular as reservas em termos numéricos, mas somente em termos de natural compartilhar: «Tomou os pães e, depois de ter dado graças, deu-os aos que estava sentados, e o mesmo fez com os peixes, e comeram o quanto desejavam» e, no proceder, parece que deixe todo o tempo para que estejam «saciados» (6,11-12). 
Multiplicação dos pães e Santa Ceia, Marfim séc. XII, Salerno, Itália.
Se existe uma pretensão em Jesus, é aquela de poder, sempre e em todas as situações, por mais difícil e complicada que pareça, recriar um clima de confiança e de acolhimento, dois estilos capazes de multiplicar, ao infinito, as possibilidades de encontrar a solução mais adequada, solução que é sempre a mais natural e a mais simples: fazer circular o pão da vida, deixando que a vida se dilate e se comunique. O sábio Gamaliel fica fora dos raciocínios alarmantes e medrosos dos seus colegas, colocando a situação que tanto perturba nas mãos de Deus, e deixando que o fluxo natural da vida revele a bondade ou a iniquidade do que está acontecendo. Gamaliel usa da experiência e recorda que já houve alguém que «pretendia ser alguém» (At 5,36), mas isto não basta para que ele seja alguém. Vejamos que o Senhor Jesus não pretende ser alguém, mas tem a pretensão de ser, no meio de nós, o sinal de uma comunhão entre nós e o Pai, que se pode sempre encontrar e com quem podemos sempre nos comunicar. O resto não lhe interessa, de fato, tanto que «retirou-se de novo sobre o monte, e ficou sozinho» (Jo 6,25).

Semeraro, M., La messa quotidiana, aprile 2013, 129-131.

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